Título: Empresário e vice de MG abriram negócios em endereço emprestado
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2005, Nacional, p. A12

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser um dos operadores do tesoureiro petista Delúbio Soares na entrega de dinheiro a parlamentares, foi sócio do vice-governador de Minas Gerais, Clésio Andrade (PL), na criação de duas empresas de telecomunicação que nunca existiram: a Bras Telecom e a Brastev. As empresas foram criadas no dia 3 de novembro de 1997, com capital social de R$ 1 milhão, cada, e com sede num mesmo endereço - uma sala comercial de menos de 50 metros quadrados, no centro de Belo Horizonte (MG). Elas nunca chegaram a atuar. Na época de abertura, funcionava no local o escritório do advogado Rogério Lanza Tolentino. Ele afirmou que representa as agências de publicidade SMPB Comunicação e DNA Propaganda, que têm como sócio Marcos Valério e já pertenceram a Clésio Andrade. Tolentino disse ontem que "acompanhou de perto o processo de abertura das empresas" e que "emprestou" o endereço para que Marcos Valério e Clésio Andrade registrassem as firmas. Elas, no entanto, existiram apenas no papel, apesar de ainda constarem nos registros da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg). Marcos Valério e Clésio Andrade informaram, via assessoria de imprensa, que abriram as empresas para tentar entrar no mercado de TV a cabo, mas já fizeram o pedido de desativação das duas firmas. A abertura da Bras Telecom e da Brastev coincide com o período em que o vice-governador também era sócio das agências de publicidade SMPB e DNA. Um ano depois, em 1998, suas participações nas duas agências foram passadas para a Graffiti Participações, outra empresa de Marcos Valério. Hoje, a SMPB e a DNA são duas das maiores agências de Belo Horizonte e detêm contas como a do Ministério do Trabalho, do Ministério dos Esportes, dos Correios, do Banco do Brasil, entre outras. Segundo o advogado Rogério Tolentino, a constituição da Bras Telecom e da Brastev visava a atender a exigências licitatórias em concorrências de exploração dos serviços de TV a cabo. "Como elas não venceram nenhuma das concorrências, foram desativadas. Não há problema nisso. Se as empresas ganhassem, elas seriam regularmente criadas e ganhariam novo endereço", disse Tolentino. A participação de Clésio Andrade no negócio se dá por intermédio da Holding Brasil. A holding, antiga CS Andrade Participações (abreviação de Clésio Soares de Andrade), atua com participações em instituições financeiras e pertence ao vice-governador. Os registros dessa empresa também têm pontos obscuros. Segundo os dados da Jucemg, a Holding Brasil funcionou em São Lourenço da Serra, em São Paulo. A reportagem esteve ontem no local. No endereço, no entanto, há uma casa de dois cômodos que está com uma placa de venda. A proprietária, que pediu para não ter o nome revelado, disse que aluga o imóvel para empresas que querem pagar tarifas reduzidas de ISS (Imposto Sobre Serviços) - prática conhecida entre os moradores e os próprios fiscais da prefeitura local. No entanto, não há nenhum registro da Holding na prefeitura. A antiga inquilina do imóvel, Claudete Francisca da Silva, também disse que recebeu correspondências em nome da Holding. "Nunca ninguém veio buscá-las." A assessoria do vice-governador informou que não conseguiu localizá-lo para que comentasse o assunto.