Título: Publicitário transita entre os poderosos de BH
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2005, Nacional, p. A12

Homem de confiança do vice-governador de Minas, executivo é avesso aos holofotes e sumiu há dez dias

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza é pouco conhecido em Belo Horizonte, mas é detentor de uma carreira em ascensão no mundo dos negócios. Atual acionista de duas das maiores agências de publicidade mineiras, a SMPB e a DNA, o executivo é também um dos donos do Centro de Preparação Eqüestre da Lagoa (Cepel), onde circula entre representantes da elite mineira. Foi no Cepel, há dez dias, que Marcos Valério foi visto publicamente pela última vez em Belo Horizonte - onde reside com a família -, após as acusações de ser emissário do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, na entrega das malas do mensalão. Conhecido na capital mineira por transitar entre poderosos, mas sempre avesso aos holofotes, Marcos Valério foi homem de confiança do vice-governador de Minas, Clésio Andrade (PL), até meados de 1998. De profissional do mercado financeiro, ele passou a empresário próspero da publicidade nos últimos 20 anos - apesar de nunca na vida ter criado uma campanha publicitária. Seu talento? Os negócios. "Pelo que sei, ele era um funcionário do Banco Central", relata o publicitário Francisco Castilho, um dos sócios. Na Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg), entre as empresas vinculadas a Marcos Valério, a primeira que consta nos registros é a Graffiti Participações Ltda., constituída em 1976, e que tem como sócios sua mulher, Renilda Maria Santiago Fernandes, e o publicitário Ramon Hollerbach Cardoso. Suas atividades são amplas:atuar no mercado publicitário, de relações públicas e de comunicação em todas as suas formas, com participação no país ou no exterior. Cinco anos depois, em 1981, foi criada a SMPB Comunicação, que, além de Marcos Valério e Ramon, tem como acionista majoritário o publicitário Claudio Paz. No mesmo ano, a DNA Propaganda Ltda. foi criada pelo publicitário Daniel Freitas, já morto e sobrinho do vice-presidente José Alencar (PL). Em 1996, 50% das cotas da DNA são adquiridas por Clésio Andrade, que, dois anos depois, vende sua parte para a Graffiti. Hoje, SMPB e DNA detêm gordas contas de órgãos públicos. Entre eles, o Ministério do Trabalho, o Ministério do Esporte, o governo de Minas, os Correios e o Banco do Brasil. Só a DNA teve faturamento de R$ 30 milhões no ano passado. Os vínculos de Marcos Valério e Clésio Andrade começam a ruir em 1998, com a venda das ações da DNA. Na Justiça o vice-governador acusou Marcos Valério de não pagar o valor acordado. Procurado pelo Estado entre quarta e anteontem, Clésio não quis dar entrevista. Entre os conhecidos, uma dos hábitos que mais chama a atenção em Marcos Valério é a sua preocupação com segurança. Sua casa, uma luxuosa residência no bairro Castelo, está agora em reforma. Por causa das obras, a família mudou-se temporariamente, mas três seguranças estão continuamente postados na guarita que domina uma muralha de mais de três metros de altura. Há câmeras por todos os lados. Três pessoas ligadas ao mercado publicitário em Belo Horizonte relataram, com a condição de não terem os nomes revelados, que Marcos Valério passou a andar acompanhado por seguranças, após ter sua casa metralhada há três anos. Não há registros disto na polícia. Durante a semana, a reportagem tentou contactar Marcos Valério, sem sucesso. Ontem, sua assessoria informou que ele estava na cidade mas não falaria. O advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva argumenta que não é o momento para declarações. "Vamos esperar o que vai acontecer. Temos seis meses para entrar na Justiça contra quem fez essas acusações infundadas", observou. Nem no Cepel, onde Marcos Valério guarda seu mais novo xodó, a égua Preta Z, ele apareceu nos últimos dias.