Título: Lula confirma Dilma no lugar de Dirceu e busca novo articulador
Autor: Tânia MonteiroLeonêncio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2005, nacional, p. A4

Perfil técnico de Dilma leva presidente a manter Coordenação Política; Marcelo Déda e Jaques Wagner são cotados para suceder Aldo

Quatro dias depois do anúncio da demissão do ministro José Dirceu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva bateu o martelo e definiu que a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, vai chefiar a Casa Civil no lugar do antigo homem-forte do governo. A escolha significará uma mudança e tanto na atuação da Casa Civil, já que a nova titular tem perfil estritamente técnico, sem inclinação para tarefas de caráter político como o antecessor. Por isso, Lula se viu obrigado a preservar a Secretaria de Coordenação Política, cuja extinção chegara a cogitar. Mas Aldo Rebelo, deputado licenciado do PCdoB que comanda a pasta, será substituído por um pestista. Até a noite de ontem, o presidente estudava dois nomes para a vaga: Marcelo Déda, prefeito de Aracaju, e Jacques Wagner, ministro-chefe do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). A posse de Dilma está marcada para as 16 horas de hoje, mesmo dia em que será publicada no Diário Oficial da União a demissão de Dirceu, que vai reassumir uma cadeira na Câmara. Outras mudanças no primeiro escalão deverão ser divulgadas até o início da semana que vem, quando Lula regressará de uma viagem à Colômbia e à Venezuela. O quebra-cabeças está sendo montado de forma a reduzir o espaço do PT no governo, abrindo vagas para o PMDB, que já tem dois ministérios. A escolha da nova chefe da Casa Civil, aliás, contrariou tanto setores do PT quanto do PMDB. Petistas mais à esquerda fizeram até a última hora pressão para que o substituto de Dirceu fosse o ministro da Educação, Tarso Genro. Já no PMDB o nome de Dilma foi encarado com dissabor, pois a ministra tivera atritos com o partido por causa da indicação de diretores de empresas do setor energético. A compensação da legenda deverá ser justamente a nomeação do sucessor de Dilma no comando do Ministério de Minas e Energia. Decidido a anunciar pelo menos parte da reforma ministerila ainda ontem, o presidente Lula antecipou seu retorno de Assunção, onde participava de reunião de cúpula do Mercosul. No vôo de volta, conversou longamente com Dilma, convencendo-a a se transferir para a Casa Civil, idéia que a princípio desagradou à ministra. Lula estava preocupado com o fato de Dilma ser alvo constante de críticas dos parlamentares, que reclamam da dificuldade para serem recebidos por ela. Por isso mesmo, depois de ouvir ponderações de que era necessário manter no Planalto um ministro com atribuições políticas, o presidente cedeu e mudou a estrutura ministerial que tinha desenhado ao acertar a saída de Dirceu do governo. Com isso, a Coordenação Política vai continuar como um anteparo capas de preservar o presidente da República das queixas dos congressistas. O clima de dúvida era tamanho, principalmente diante da resistência da ministra, que a assessoria do Palácio do Planalto chegou a anunciar, por volta das 19 horas, que o nome do novo titular da Casa Civil não seria anunciado ontem. Pouco depois, auxiliares do presidente confirmaram a escolha de Dilma, enquanto Lula estava reunido com Jacques Wagner e Déda. Às 20 horas, o porta-voz André Singer informou que oficialmente a substituição na Casa Civil. Acrescentou que o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tomasquin, ficará interinamente à frente do Ministério de Minas e Energia, acumulando com a tarefa coma função atual. Lula agora tenta fechar o desenho do novo ministério, dando mais força para o PMDB. Só que o fato de o senador José Sarney (PMDB-AP) estar fora do País tem atrapalhado as negociações e deve retardar definições. Continuava de pé, no entanto, a expectativa de que serão extintas secretarias com status de ministério, apesar da pressão dos petistas pela manutenção de espaço no governo. Antes de embarcar em Assunção, Lula convocara Déda para vir a Brasília. O prefeito de Aracaju chegou por volta das 16h30. Àquela altura, Lula já havia se reunido mais uma vez com Dilma, além de ter recebido os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Com Aldo Rebelo, o presidente conversou pelo menos três vezes ao longo do dia de ontem, mas sempre por telefone. Por volta das 18 horas, Lula começou uma longa negociação com Jacques Wagner e Déda para tentar definir o futuro ocupante da Secretaria de Coordenação Política. "Não há um modelo de coordenação. Ainda é preciso discutir melhor o tema", afirmou Déda, antes de conversar com o presidente. Ele garantiu não ter recebido nenhum convite. "Meu projeto é a Bahia", desconversava por sua vez Jacques Wagner, alegando que não iria mudar de cargo agora, já que pretende disputar o governo de seu Estado no ano que vem.