Título: Marinho abre CPI e deve fazer papel de vítima
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2005, nacional, p. A8

Estratégia do ex-chefe do Departamento de Compras dos Correios é negar esquema e poupar Jefferson

Começam hoje as investigações da CPI dos Correios, com o depoimento de Maurício Marinho, ex-chefe do Departamento de Compras e Administração de Material da estatal. Flagrado numa gravação recebendo propina de R$ 3 mil, Marinho tentará negar o que afirma na fita sobre a existência de um esquema montado nos Correios com o objetivo de arrecadar dinheiro ilegal para o PTB. O ex-chefe do Departamento de Compras dos Correios deverá manter a linha do depoimento prestado à Polícia Federal no qual admitiu ter errado ao receber propina, mas afirmou que eram bravatas os trechos em que apontava o deputado Roberto Jefferson como chefe de um esquema de corrupção integrado por funcionários indicados pelo partido. O advogado José Ricardo Baitello assegura ter orientado Marinho a responder sem evasivas todas as perguntas dos deputados e senadores. Mas o depoente vai procurar demonstrar a parlamentares que foi apenas vítima de uma disputa entre empresas ou grupos políticos interessados em controlar os negócios dos Correios. Apesar das negativas de Marinho, a Controladoria-Geral da União (CGU) vem encontrando indícios de corrupção à medida que checa as afirmação feitas por Marinho na gravação - realizada por dois arapongas que se passavam por representantes de uma empresa. Caberá à CPI esclarecer se a divulgação de negociatas nos Correios foi produzida por disputa entre empresários interessados nos contratos de fornecimento à estatal ou por guerra entre partidos políticos empenhados em garantir fonte de recursos para caixa 2. A apuração policial conduzida até agora indica que a gravação foi produzida no submundo da espionagem e seria resultado de interesses comerciais feridos. Dono de uma das empresas preteridas pelos Correios, a Coman, o empresário Arthur Washeck confessou ter encomendado a gravação e disse que pretendia derrubar Marinho. O ex-chefe de Compras teria ridicularizado o papel da Coman e de outras empresas pequenas que tentavam fechar contratos com a estatal. É uma versão vista com reservas por boa parte dos policiais e procuradores que investigam o caso.

ARAPONGA Marinho contará na CPI que, por problemas de saúde, tinha pedido afastamento do cargo em 3 de maio, bem antes de a história vir à tona. Mostrará cópia do pedido, já apresentado à PF. Um dos pontos mais importantes a ser esclarecido diz respeito ao autor da gravação. Até agora se divulgou que o araponga é João Carlos Mancuso Vilela, empresário paranaense contratado por Washeck. Marinho afirma, porém, que, se Mancuso for o homem alto, forte e careca que viu em fotos publicadas nos jornais, não é o mesmo personagem que se apresentou em sua sala como Vitor - magro, com cabelo penteado para trás e cerca de 1m75 de altura.