Título: Começa a disputa pelo minério de ferro da Bahia
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Negócios, p. B14

Reserva geológica em Caetité é estimada em pelo menos 4 bilhões de toneladas

A empresa baiana Mineração Brasileira de Ferro (MBF), do empresário João Carlos Cavalcanti, iniciou esta semana as negociações para a transferência dos direitos de exploração do primeiro bloco de minério de ferro, descoberto no município de Caetité, no Oeste da Bahia. O processo é coordenado pela Metaldata Engenharia. Estudos prévios identificaram reserva geológica na região e indicam volume aproximado de 4 bilhões de toneladas de minério, 80% desse total considerado de baixa concentração de ferro. No jargão do setor, itaberitos duros, na proporção de 37% a 42%, brandos (44% a 62%) e ricos (64% a 67%). Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) - órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia (MME) -, o crescimento da demanda mundial de minério de ferro - principalmente gerada pela China - e o avanço tecnológico do setor mineral mudaram radicalmente o perfil econômico da mineração. E é essa mudança, recente no setor, que pode viabilizar reservas geológicas com baixos teores de ferro, torná-las "promissoras", segundo o DNPM. A MBF afirma que 17 grupos industriais ligados à mineração e à siderurgia participam a partir de agora da disputa pelo primeiro bloco que será colocado à disposição. São três no total. Segundo Cavalcanti, é um leilão que poderá ter a seguinte cronologia: grupos interessados passam a visitar, nesta semana, a área para uma avaliação mais detalhada sobre a reserva; caso isso ocorra, a previsão é que o leilão termine em 120 dias. É uma forma também de valorizar a disputa, mas o geólogo e dono da MBF admite que o leilão pode ser abortado, caso haja oferta capaz de cobrir a expectativa da empresa. O valor não é informado. O DNPM diz que esses são movimentos naturais. O detentor do direito minerário pode fazer a cessão deste em negociação de mercado. A forma dessa negociação é um risco e uma opção do proprietário do direito. Basta apenas, para oficialização do negócio, a averbação do contrato no órgão. Cavalcanti tem, de acordo com o DNPM, 60 direitos minerários. Além desse bloco, o geólogo trabalha numa extensão da reserva entre Caetité e Boquira, cuja previsão é que alcance cerca de 2,6 bilhões de toneladas de minério, e outra próxima ao município de Xique-Xique. Nesta, não há estimativas da reserva geológica. O Departamento afirma que novas medições deverão ser feitas na área, cujo objetivo é o de mensurar definitivamente toda a reserva. Os teores e as estimativas de volume foram feitos com base em avaliações das áreas que afloram, mas não a que está sob o solo. "Será necessário ainda fazer sondagens de 50, 100, 200 metros para se avaliar os volumes reais. De qualquer forma, as 4 bilhões de toneladas identificadas até agora demonstram que a reserva é promissora", disse João Cesar de Freitas Pinheiro, diretor-geral adjunto do DNPM. O negócio pode mudar a geografia da mineração e da siderurgia brasileira. O complexo industrial de exploração mineral, processamento industrial e transporte para o porto não demanda cifra inferior a US$ 4 bilhões.