Título: UE anuncia mudanças em subsídios
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Economia, p. B9

Vitória do Brasil na OMC força europeus a rever ajuda dada a produtores de açúcar; trabalhadores italianos temem desemprego

Pressionado pela vitória do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os subsídios ao açúcar, a União Européia (UE) anuncia hoje projeto de reforma do sistema de apoio aos produtores locais que incluirá uma redução do preço mínimo pago a cada agricultor europeu. A proposta, porém, está sendo duramente atacada por agricultores e ativistas, além de afetar diretamente o valor das ações das principais companhias européias de açúcar nas Bolsas de Valores. No início do ano, o Brasil conseguiu que a OMC condenasse os subsídios europeus, considerando-os ilegais. Bruxelas foi obrigada a avaliar um plano de reforma do sistema que existe desde a década de 50. Segundo a proposta que será revelada hoje, o corte no preço de apoio ao açúcar seria de 39% em três etapas, entre 2006 e 2008. O preço mínimo de garantia ainda seria reduzido em 42% nesse período. Um fundo de reestruturação seria estabelecido para ajudar os produtores europeus a abandonar suas atividades no setor. As projeções apontam que apenas 8 dos 25 países da UE conseguiriam manter seu setor açucareiro intacto se tal reforma fosse aprovada. Os demais teriam sérias dificuldades para sobreviver, entre eles Itália, Grécia e Portugal. O Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas da Itália divulgou nota alertando que a reforma resultaria na perda de 75 mil postos de trabalho. Para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, é de interesse dos próprios membros da UE reformar o setor para ser mais eficiente. A entidade alerta que outras disputas comerciais podem ser levadas à OMC se os países ricos não tomarem a iniciativa de reformar espontaneamente o setor agrícola. Mas para os economistas, quem mais sofrerá com a proposta será o grupo de países mais pobres que hoje conta com preferências para venderem açúcar à UE. Esse grupo, constituído por países do Caribe e África, não contará com os mesmos preços para vender seu açúcar. A UE sugere a criação de um fundo com US$ 48 milhões como compensação. Mas entidades como a Oxfam e mesmo os governos desses países apontam que o valor não será suficiente. A Oxfam, por exemplo, estipula que as nações afetadas precisarão de mais de US$ 600 milhões para sobreviver às mudanças. A proposta será debatida pelos 25 países da UE e a esperança de Bruxelas é de que seja aprovada até novembro, antes da reunião ministerial da OMC em Hong Kong.