Título: Juiz de 29 anos não teme intimidações
Autor: Nilson Brandão JuniorNicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Economia, p. B6

Caso Schincariol transforma Vlamir C. Magalhães em personalidade nacional

O juiz federal que levou os donos da Schincariol à prisão é um jovem determinado. Aos 29 anos de idade, Vlamir Costa Magalhães conta que, durante o curso de Direito, concluído em 1998, decidiu ser juiz pela possibilidade de "se manter eqüidistante dos interesses das partes e, acima de tudo, fazer justiça". Hoje dando expediente na 1.ª Vara Federal de Itaboraí, pequeno município da região metropolitana do Rio de Janeiro, virou personalidade nacional. O processo envolvendo irregularidades supostamente capitaneadas pela cervejaria Schincariol é, de longe, o maior que já teve pela frente. Mas, ele não é o primeiro exemplo de juiz com pouco tempo de magistratura a assumir um caso de tamanha repercussão. Em 2002, aos 33 anos de idade, o juiz da 1.ª Vara Criminal da Justiça Federal, Marcos André Moliari, condenou Marcos Catão de Magalhães Pinto, controlador do extinto Banco Nacional, por gestão fraudulenta. Após atuar como defensor público por quatro anos, até 2003, Vlamir passou a juiz da Vara Federal de Volta Redonda, em 2004. Na cidade, foi responsável por determinar a prisão de hackers que entraram no sistema da Caixa Econômica Federal. "Eles começaram desviando pouca quantia de dinheiro, depois cresceram o olho e passaram a desviar, por dia, R$ 500 mil, R$ 600 mil."

CUIDADO MAIOR O processo atual tem porte muito maior. Para a Operação Cevada, Magalhães mandou expedir 77 mandados de prisão e 140 de busca e apreensão de documentos. As decisões resultaram na prisão de 70 pessoas supostamente ligadas a um esquema de sonegação fiscal. Questionado sobre sua integridade física, ele admite algum receio, mas não se diz intimidado. "Claro que tenho (medo). Se dissesse que não, estaria mentindo." Ainda assim, não solicitou segurança pessoal, mas toma mais cuidado ao sair sozinho. "Estou mais esperto, digamos assim." A rotina do juiz e dos demais servidores ficou muito mais intensa na última semana. Eles vêm trabalhando das 9h às 21h, invariavelmente. Sobre a vida pessoal, ele fala pouco: gosta de futebol e é flamenguista. Indagado se gosta de beber cerveja, pensa um pouco antes de responder: "É uma pergunta complicada. Bebo muito pouco, mas gosto." Mas não conta qual a marca preferida.