Título: Conta externa terá superávit menor
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Economia, p. B3

Aumento das importações e das remessas ao exterior levam BC a prever um saldo de US$ 4,6 bilhões para o ano

As contas externas, que acumularam saldo positivo de US$ 13,37 bilhões nos 12 meses terminados em maio, começarão a perder fôlego a partir do segundo semestre, segundo projeções do Banco Central. A estimativa é que o saldo em transações correntes acumulado em 2005 seja ainda positivo, mas menor: US$ 4,6 bilhões. O governo acredita que, animadas pelo dólar barato e pelo bom desempenho das empresas multinacionais no ano passado, as remessas de lucros e dividendos para o exterior continuem elevadas. O câmbio, combinado com um aquecimento da atividade econômica, também estimularia as importações. Por isso, a diferença entre os dólares que entram e os que saem do País tende a ser menor daqui para o final do ano. A balança comercial (exportações menos importações), apesar de altamente positiva, começa a crescer a um ritmo inferior ao da balança de serviços e rendas (que inclui o fluxo de juros, lucros e dividendos que entram e saem do Brasil). Em maio, segundo o Banco Central, o País obteve um saldo positivo de US$ 615 milhões. Com isso, o saldo acumulado em 12 meses caiu de US$ 14,23 bilhões para US$ 13,37 bilhões (2,06% do Produto Interno Bruto). Em junho, pelas estimativas do BC, esse valor deve recuar para US$ 12,3 bilhões. Pesou no resultado o aumento da remessa de lucros e dividendos ao exterior, que chegou a US$ 1,55 bilhão, quase o dobro do mês anterior.

ESTOQUE MAIOR De acordo com o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o aumento das remessas em dólares se explica por um efeito combinado entre a maior rentabilidade registrada pelas multinacionais em 2004 e o aumento do estoque de investimentos diretos estrangeiros. Com a valorização do real, o volume do estoque de investimentos em dólares cresce. O relatório do BC mostra que as despesas de viagens dos brasileiros no exterior, estimuladas pelo dólar mais barato, já cresceram 60% nos primeiros 5 meses deste ano em comparação com igual período do ano passado. Só em maio, os brasileiros gastaram U$ 424 milhões no exterior, enquanto os turistas estrangeiros deixaram no Brasil U$ 292 milhões. Desde o início do ano, o País acumula um déficit de US$ 26 milhões com viagens internacionais, que deverá crescer para pelo menos US$ 200 milhões até o final do ano, pelas novas estimativas.

REVISÃO A projeção do Banco Central de que o saldo de transações correntes chegará a US$ 4,6 bilhões ao final deste ano é, na verdade, uma revisão para cima das expectativas do governo, que esperava um resultado menor, US$ 2,1 bilhões. O aumento ocorreu porque o saldo comercial deverá fechar o ano com um superávit de US$ 30 bilhões - e não mais US$ 27 bilhões, como estava previsto até agora. Apesar da elevação, os números oficiais são bem mais conservadores do que os do mercado financeiro, que espera um saldo comercial de US$ 35 bilhões no ano e um saldo em transações correntes de US$ 9,2 bilhões. "As expectativas vêm crescendo bem mais do que imaginávamos. Não faria sentido manter o número anterior", afirma o chefe do Departamento Econômico do Banco Central.