Título: Artistas voltam às notas do real
Autor: Ribamar Oliveira Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Economia, p. B1

Na era da inflação galopante, homenagem era desprestígio

Personalidades da cultura nacional podem figurar na novas notas do real. O assunto está sendo analisado pelo Banco Central, que já trabalha na pesquisa de figuras representativas da arquitetura, música, cinema, teatro, artes plásticas e literatura - uma para cada valor de cédula. A alternativa em estudo é manter o tema da fauna na linha de notas, que completa 11 anos em 1º de julho. A análise da volta de personalidades foi confirmada pelo chefe do Departamento do Meio Circulante do BC, José dos Santos Barbosa. A autorização para estudos de uma nova família de cédulas - com mais elementos de segurança para evitar falsificações - foi dada em dezembro. A escolha deve ser anunciada no segundo semestre. A diretoria do BC receberá os dois projetos e encaminhará um para a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN). A Biblioteca Nacional trabalha na pesquisa bibliográfica e iconográfica dos potenciais homenageados. Para o tema fauna, o Ibama é o parceiro do BC nas pesquisas. "A posição da biblioteca é muito sólida, de defesa de que a nova família homenageie figuras da vida brasileira", disse a diretora da instituição, Maria Izabel Mota de Almeida. O último brasileiro estampado em cédulas foi o educador Anísio Teixeira (1994). Desde então, as figuras de animais acabaram servindo ao lançamento do real. A Casa da Moeda teve três meses para confeccionar as notas. Foi preciso recorrer ao ferramental disponível. O beija-flor da nota de R$ 1, por exemplo, já batia asas na cédula de 100 mil cruzeiros (1992). A efígie simbólica da República havia sido usada na nota de 200 cruzados novos (1989). Com a inflação fora de controle, o dinheiro desvalorizava-se rapidamente. Novas cédulas eram lançadas em poucos meses. Algumas levavam carimbos com novos padrões monetários. "Criou-se um constrangimento. Mais de uma vez, apontamos alguém que poderia ser homenageado e tivemos negada a autorização pela família", conta Barbosa. Na fase de lançamento do real, não havia tempo sequer para negociar com os parentes das personalidade, relembra. Barbosa conta que a linha de notas era de "emergência" e era "humanamente impossível" atender às recomendações de segurança. Nos primeiros anos do plano, o BC adotou medidas para controlar falsificações. Mas, entre 2000 e 2003, o valor do dinheiro falso apreendido subiu de R$ 8,9 milhões para R$ 17,2 milhões. Em 2004, após ações de esclarecimento, houve recuo e o montante caiu a R$ 16,4 milhões.