Título: CMN vai fixar meta de inflação de 4,5% para os próximos dois anos
Autor: Ribamar Oliveira Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Economia, p. B1

Decisão derrota grupo desenvolvimentista do governo, liderado pelo senador Mercadante, que queria a meta de 5,5% para 2006

O Conselho Monetário Nacional (CMN) deve confirmar amanhã a meta de 4,5% para a inflação em 2006, com tolerância de 2 pontos porcentuais para baixo e para cima, e fixar também em 4,5% a meta para 2007, com a mesma banda de flutuação. Com a decisão de trabalhar com a mesma taxa para os próximos dois anos, o governo vai sinalizar ao mercado, na prática, que o Banco Central (BC) terá 24 meses para fazer convergir a inflação para o centro da meta. Essa foi a proposta que os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo, levaram ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que dará a palavra final. As informações disponíveis até ontem à noite davam conta que Lula referendaria a proposta. A decisão de manter a meta do próximo ano em 4,5% representa uma derrota para o chamado grupo desenvolvimentista do governo, que tem o líder no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), como um de seus principais representantes. Mercadante defendia uma meta de 5,5% para 2006 e, nas últimas semanas, chegou a aceitar a proposta de que ela fosse fixada em 5,1%, que é o mesmo objetivo do BC este ano. A derrota de Mercadante e do grupo desenvolvimentista, caso prevaleça a proposta dos ministros, é apenas parcial. Uma fonte do governo explicou ontem que a mesma meta para a inflação tanto em 2006 como em 2007 permitirá ao BC executar uma política de juros mais amena, pois ele terá um prazo maior para chegar aos 4,5%. De acordo com esse raciocínio, o BC poderá estabelecer como objetivo para 2006 uma taxa de 5%. Se ele alcançar entre 5% e 5,5% já terá conseguido reduzir a inflação em relação a este ano, que provavelmente ficará entre 6% e 6,5% - uma redução de 1 ponto porcentual. Vale dizer que o limite máximo para a inflação no próximo ano, por causa da margem de tolerância, é de 6,5%. Em 2007, raciocinam as mesmas fontes, o BC poderia reduzir a taxa para algo entre 4% e 4,5% - recuo também de 1 ponto porcentual. Com isso, o governo daria uma demonstração ao mercado e aos investidores internacionais de que a tendência da inflação do País é de contínuo declínio. Para 2008, a meta poderá ser fixada em 4% ou menos com certa tranqüilidade, dizem os técnicos. Os ministros resistiram às pressões para mudar a meta principalmente por razões políticas. A análise da área econômica foi de que, se a meta de 4,5% para 2006 fosse elevada, passaria a impressão ao mercado de leniência com a inflação e de influência do ano eleitoral na flexibilização. Seria um sinal de que haveria gastança, leitura que o governo quer evitar.