Título: Publicitário admite saques, 'para pagar fornecedores'
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2005, Nacional, p. A4

Em depoimento de quase oito horas na Polícia Federal, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza mudou sua versão para os saques vultosos que fez em dinheiro vivo. Afirmou que são "provavelmente verdadeiras" as informações sobre retiradas em dinheiro feitos das contas de suas agências de publicidade, DNA e SMPB, somando R$ 20,9 milhões, mas apresentou nova versão para as operações bancárias. Disse que serviram para pagar fornecedores, comprar ativos e distribuir lucro entre os sócios. Valério reconheceu ter propriedades rurais em nome de suas empresas, mas negou ter dito, em entrevista à revista Veja, que usou o dinheiro sacado para comprar gado. Apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como responsável pela distribuição das propinas a deputados da base governista, ele negou todas as acusações.

Marcos Valério não detalhou que tipo de ativos comprou com o dinheiro sacado e também não disse os nomes dos fornecedores. Prometeu mandar à PF comprovantes do destino do dinheiro sacado. Os saques constam de relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e referem-se ao período entre 2003 e o início de 2005. Sobre a coincidência entre datas dos saques e de viagens que fez a Brasília, Marcos Valério disse ao delegado Luiz Flávio Zampronha, responsável pelo inquérito, que é bem possível que aconteça porque viajava com muita freqüência. O empresário negou, porém, qualquer relação entre os saques e as viagens.

Ex-secretária de Valério, Fernanda Karina Somaggio tem dito em vários depoimentos que o antigo patrão tirava altas quantias de dinheiro antes de viajar a Brasília. Ela diz não ter provas, mas acredita que o dinheiro era usado para levar propinas a deputados.

O empresário disse conhecer dirigentes do PT, "principalmente" o tesoureiro Delúbio Soares. Afirmou ter um relacionamento "superficial" com o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, e ter encontrado o ex-ministro José Dirceu somente em ocasiões sociais.

O delegado Zampronha, que pediu à Justiça a quebra do sigilo bancário e fiscal do publicitário, vai solicitar ao Instituto Nacional de Criminalística perícia contábil nas últimas declarações de Imposto de Renda de Marcos Valério, para avaliar a evolução patrimonial do empresário. O policial achou que não havia elementos para indiciar o publicitário.

Marcos Valério chegou nervoso à Polícia Federal, às 12h55, acompanhado de três advogados. Prestou depoimento "muito confuso", segundo a assessoria da PF. Às 21h, deixou a Polícia Federal e seguiu para a Câmara dos Deputados, onde depôs na Comissão de Sindicância, em sessão fechada.

Cercado por repórteres que faziam todo tipo de perguntas, Marcos Valério interrompeu o silêncio no caminho até o carro para dizer apenas uma frase: "Gente, eu não quero ser grosso".