Título: CPI quebra sigilo e convoca Valério
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2005, Nacional, p. A4

O governo bem que tentou impedir, mas a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios aprovou ontem a quebra de sigilo bancário, telefônico e fiscal do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, dono de agências de publicidade apontado como um dos operadores do mensalão. A CPI também marcou para a próxima quarta-feira o depoimento de Marcos Valério e de sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio. É provável que os dois sejam submetidos a acareação. Parlamentares do PT fizeram com que a quebra de sigilo do publicitário fosse retroativa aos últimos cinco anos. Com isso, pretendem esmiuçar as atividades de Marcos Valério nos últimos dois anos e meio do governo Fernando Henrique. A discussão para aprovar a quebra de sigilo demorou quase cinco horas - três delas numa reunião a portas fechadas, enquanto a sessão pública da CPI permanecia suspensa.

O PT realizou a manobra de ampliar o período de devassa quando percebeu que não conseguiria impedir a aprovação do requerimento. "Acho que essa quebra só deveria acontecer depois do depoimento do Marcos Valério", disse o deputado Maurício Rands (PT-PE). O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), fez uma advertência. "Se abrir o leque de investigação, nós vamos perder o foco. Não vamos investigar absolutamente nada. Todos vão perder. Temos de ter responsabilidade", alertou, apresentando vários mandados de segurança dados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra pedidos de quebra de sigilo sem fundamento.

RETIRADAS

O empresário foi apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador do mensalão pago a deputados do PP e do PL para votar conforme os interesses do Planalto. Na semana passada, foi divulgado um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostrando que o publicitário, entre julho de 2003 e maio passado, fez retiradas em dinheiro vivo de contas do Banco Rural num total de R$ 20,9 milhões.

Munido com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) e a senadora Ideli Salvati (PT-SC) apresentaram levantamento mostrando que em 2001 e 2002 o governo Fernando Henrique fez pagamentos de R$ 39,4 milhões às duas agências de Valério, a DNA e a SMPB. No período de 2003 e 2004, os repasses da administração federal para as duas empresas caíram para R$ 14,8 milhões, segundo o relatório dos petistas.

CARAPUÇA

"O PSDB não tem o menor problema com as investigações no período do governo Fernando Henrique. Mas foi no governo do PT que se iniciaram as suspeitas de que o Marcos Valério pagava mesada a deputados", disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). Cardozo reagiu: "Apenas apresentei dados. Não falei que o governo anterior roubou ou não. Não tenho culpa se o deputado vestiu a carapuça."

Os petistas também tentaram impedir a convocação de Marcos Valério para depor na CPI dos Correios na quarta-feira. A senadora Ideli e o deputado Rands alegaram que não havia lógica na convocação do publicitário antes da conclusão dos depoimentos dos personagens diretamente envolvidos no esquema de corrupção dos Correios. Delcídio precisou intervir e fez uma piada com o presidente dos EUA, George W. Bush: "Até parece que é o Bush que vai cair nessa reunião. Ele (Marcos Valério) vai vir sim."