Título: Amigo de Lula diz que Novadata perdeu com PT
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2005, Nacional, p. A14

O empresário Mauro Dutra depôs ontem à comissão de sindicância da Câmara que apura a denúncia do mensalão. Amigo do presidente Lula, ele negou que sua empresa de informática, Novadata e tenha se beneficiado irregularmente de contratos com os Correios. Entregou dados sobre seus negócios e afirmou que, na verdade, está perdendo dinheiro neste governo.

Os dados entregues por Dutra mostram que a Novadata é responsável pelo fornecimento de 22% de todos os computadores do governo federal. Nos dois anos e meio de governo petista, seu faturamento mais que duplicou, passando de R$ 142,2 milhões para R$ 337 milhões.

Dutra foi chamado a esclarecer suspeitas de favorecimento da Novadata e negou-as. "Ao contrário, dos R$ 300 milhões de compras na área de tecnologia feitas pelos Correios em 2003 e 2004, só vendi o correspondente a R$ 15 milhões, cerca de 5%." Na fita de vídeo em que aparece embolsando R$ 3 mil de propina, o ex-chefe de Departamento dos Correios Maurício Marinho diz que a Novadata foi uma das mais beneficiadas nas concorrências da estatal.

"Hoje os Correios não têm mais importância para a Novadata porque as negociações feitas significam cerca de 3% do seu faturamento total", disse Dutra. "Só participo de pregões eletrônicos. Os três contratos que tenho com os Correios hoje foram conseguidos assim."

Ele contou que é amigo de Lula há 20 anos. "Todo mundo sabe que voto no PT. Em outros governos, de outros partidos, nunca fui discriminado. Mas agora não posso mais ter minhas preferências políticas", reclamou ao deixar a comissão.

Segundo membros da comissão, Dutra deu respostas técnicas, mostrou contratos e disse que está perdendo dinheiro. Há cerca de um ano, o Tribunal de Contas da União (TCU) denunciou a organização não-governamental Ágora, que ele dirige, por irregularidades em convênios para uso de verbas do Fundo de Amparo ao Trabalhador.

'NUNCA OUVI FALAR'

O dono da Novadata disse que nunca ouvira falar em Maurício Marinho até o dia em que foi divulgado o vídeo. "Não só não sabia quem era, como nunca tinha ouvido falar qualquer coisa sobre esse cidadão." Dutra afirmou que conhece o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, mas não o secretário-geral, Sílvio Pereira, citado por Marinho como influente nos Correios.

Ao chegar à Câmara, Dutra foi recebido pelo deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF) e afirmou que teria enfim a oportunidade de se defender. "Até agora só levei pancada." Ao se dirigir à sala da comissão, cruzou com o deputado José Dirceu (PT-SP), que ia para o plenário. Os dois trocaram um abraço.