Título: PMDB de Sarney atropela Temer e sela acordo com Lula por cargos
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2005, Nacional, p. A15

Com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ala governista do PMDB atropelou o comando do partido e acertou um acordo com o Planalto para ajudar na governabilidade e receber em troca mais espaço no ministério. Com o movimento, liderado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e pelo senador José Sarney (AP), respaldados pela maior parte das bancadas do partido no Senado e na Câmara, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), está fora da interlocução entre PMDB e Lula. Pelo acordo, o PMDB deve saltar de dois para quatro ministérios. Bastaram 45 minutos de conversa no gabinete presidencial para que Temer fosse atropelado e sua carta a Lula, comunicando que a maioria do PMDB rejeita a idéia de aumentar sua participação no governo, fosse ignorada. Para criar um contraponto à negativa de Temer, Renan sacou a nota das bancadas de peemedebistas na Câmara e no Senado, não apenas aceitando a proposta de apoio como explicitando que o pacto pela governabilidade inclui "a participação do partido no governo".

A atitude de Temer não serviu só para irritar o Planalto e a cúpula aliada do PMDB. Também os convenceu de que foram traídos pelo deputado. Eles consideraram uma surpresa seu recuo, já que Temer vinha atuando com os governistas para construir a unidade partidária no apoio e na participação do governo de coalizão. "Com esse cara eu não falo mais", disse Lula aos peemedebistas. E completou: "Nosso compromisso está fechado; vamos à luta."

Àquela altura, o presidente tinha nas mãos a nota das bancadas, com a assinatura dos líderes José Borba (PR), na Câmara, e Ney Suassuna (PB), no Senado. Nela, a conclusão de que 19 dos 22 senadores do partido e 53 dos 85 deputados apoiavam o pacto proposto por Lula.

Nas negociações com o governo, o presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau, será o indicado para a pasta das Minas e Energia, como indicação de Sarney, conforme revelou o Estado. Os outros nomes peemedebistas para o ministério são o de José Borba e o do senador Hélio Costa (MG), representando também a bancada mineira.