Título: No ursinho de Suzane, uma pistola
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2005, Metrópole, p. C1

Ninguém entendeu quando o auxiliar de promotoria apareceu ontem no Ministério Público carregando um urso de pelúcia que pertencia a Suzane Louise von Richthofen e o colocou sobre a mesa do promotor Roberto Tardelli. Libertada anteontem pela Justiça, Suzane é acusada do assassinato de seus pais, Manfred Albert e Marísia von Richthofen, em outubro de 2002, juntamente com os irmãos Christian e Daniel Cravinhos de Paula e Silva - Daniel namorava Suzane na época. De um buraco nas costas do brinquedo, o promotor retirou uma bolsa preta onde estavam escondidas uma pistola calibre 22 e quatro caixas de munição. "Dá para medir o perfil de quem mantém um mimo destes em casa", disse Tardelli. Trata-se de uma arma nova, com número de fabricação, mas sem registro no Sistema Nacional de Armas (Sinarm). A pistola semi-automática não havia sido encontrada pela polícia quando a casa dos Richthofen foi revistada em outubro de 2002, logo depois do crime.

A localização da arma deve complicar a situação de Suzane, que agora vai responder a mais uma acusação no caso: a de porte ilegal de arma. Esse crime, segundo o promotor, é autônomo, pois não tem relação com o assassinato dos pais.

Suzane e os irmãos Cravinhos são acusados de homicídio triplamente qualificado: motivo torpe (a moça queria se livrar dos pais para ficar com o dinheiro da herança), meio cruel (deram golpes de barra de ferro na cabeça das vítimas e estrangularam Marísia) e recurso que impossibilitou a defesa da vítima (o casal foi morto enquanto dormia).

ALGO PARA NÃO VIR À TONA

A história do bichinho de pelúcia começou em junho passado, quando Andreas, o irmão de Suzane, foi visitá-la na prisão. "Ela lhe pediu que fosse ao quarto da casa da família e pegasse um ursinho de pelúcia, pois nele havia algo escondido que ela não gostaria que viesse à tona."

Andreas fez o que a irmã lhe pediu, mas contou ao tio deles, Miguel Abdalla, o que havia dentro do brinquedo. Abdalla procurou a promotoria, que apreendeu os objetos. O promotor continuou ontem a criticar a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, por 3 votos a 2, decidiu conceder habeas-corpus a Suzane sob a alegação de que sua prisão não estava bem fundamentada.

"Dizer que Suzane não representa risco à sociedade é uma temeridade com a qual não podemos concordar. Se for verdade, 80% dos presos devem ser libertados, pois cometeram crimes mais leves que o dela." Assim, na opinião de Tardelli, não havia razão processual que justificasse a libertação da moça. "Não sabemos mais o que é grave. A menina linda, loira e rica que matou o pai e a mãe está solta."