Título: IGP-M tem deflação pelo 2.º mês seguido
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2005, Economia & Negócios, p. B1

A deflação no Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) aprofundou-se em junho, com -0,44%, ante -0,22% em maio. Foi a segunda taxa negativa consecutiva do indicador, calculado pela Fundação Getúlio Vargas. E também o menor resultado em dois anos, saldo dos fortes recuos de preços dos produtos industriais no atacado (de 0,13% para -0,82%), sob o efeito benéfico da valorização do real ante o dólar. Para alguns analistas, a forte queda da inflação abre espaço para uma antecipação da queda da taxa básica de juros, a Selic, ainda que a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) tenha indicado uma demora no início desse movimento. A despencada no varejo foi mais um fator para a redução do índice, calculado entre 21 de maio e 20 de junho. Na avaliação do coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, não se descarta nova queda no IGP-M em julho. Ele afasta, porém, a possibilidade de as sucessivas quedas serem conseqüência de um processo recessivo da economia. Há algum tempo, a valorização do real tem reduzido os preços de insumos no atacado diretamente ligados à moeda americana. "Todo ajuste tem um período para terminar e, em breve, vai estar concluído." Quadros preferiu não arriscar palpite sobre a eventual deflação de julho. "Pode haver mais um mês de deflação, mas estamos começando a detectar alguns elementos de perda de força desse comportamento."

Com o recuo forte de preços nos produtos industriais, causado principalmente pelo câmbio, o IPA, que representa 60% do IGP-M, caiu 1% em junho, ante queda de 0,77% em maio. Segundo Quadros, os preços dos produtos agrícolas continuam em queda (de -3,42% para -1,56%), por causa da melhora na oferta. Mesmo com o maior peso da inflação do atacado no IGP-M, o economista considerou muito importante o recuo de preços no varejo.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que representa 30% do IGP-M, passou de 1,02% para 0,05% de maio para junho, graças à menor variação de preços em Alimentação (queda de 0,57%) e Habitação ( 0,35%). Segundo Quadros, o reajuste da telefonia fixa, previsto para julho, vai contribuir com cerca de 0,30 ponto porcentual para o IPC do mês. Já o Índice Nacional do Custo da Construção (INCC) subiu para 2,20% em junho ante 0,54% em maio, por causa dos reajustes nos preços de mão-de-obra (4,54%). O IGP-M acumula altas de 1,75% no ano e de 7,12% em 12 meses.