Título: Lula se irrita com 'Brasília sitiada'
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2005, Economia & Negócios, p. B4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi surpreendido, no meio da tarde de ontem, com o seguinte recado: "Brasília está sitiada". Pouco mais de 50 tratores ameaçavam invadir o Congresso. As principais vias da Esplanada dos Ministérios estavam bloqueadas."Desse jeito, não dá para negociar", reagiu o presidente.

Irritado, Lula cancelou a audiência que teriam com os líderes do tratoraço. O presidente pediu ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que verificasse o que havia acontecido.

O presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Antônio Ernesto de Salvo, admitiu ao ministro Rodrigues que havia perdido o controle sobre o movimento.

Os manifestantes, que até então tinham se esforçado para se diferenciar dos tumultuados protestos do Movimento dos Sem-Terra (MST), perderam a calma depois que foram informados, no início da tarde, que o governo ainda resistia a refinanciar suas dívidas.

Os produtores rurais foram informados dessa tendência pelos governadores que haviam estado com Lula pela manhã.

A notícia chegou num momento em que os líderes do tratoraço estavam no Palácio do Planalto, em negociações técnicas.

Irritados, os manifestantes partiram para a radicalização. Algumas dezenas dos mais exaltados colocaram seus tratores sobre o gramado em frente ao Congresso e seguiram em direção à entrada principal.

Pararam à beira do espelho d'água, que além de decorativo tem a função de evitar que o prédio seja invadido por manifestantes.

Assustados, um grupo de parlamentares foi até os manifestantes para pedir moderação.

"Se não tivéssemos ido, eles tinham invadido o Congresso com os tratores", contou o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).

"Estou preocupado pelo que vi e pelo que ouvi", afirmou o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).

DIÁLOGO

Os dois foram até o Planalto para fazer um apelo ao diálogo. O diálogo, porém, já estava sendo retomado.

Os líderes do tratoraço não foram recebidos pelo presidente Lula, mas tiveram uma audiência com Roberto Rodrigues, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

Os três voltam a se reunir hoje às 10 horas, no Ministério da Agricultura.

Eles vão discutir o ponto mais polêmico: as reivindicações dos produtores rurais de renegociação das dívidas do Programa Especial de Saneamento de Ativos do Setor Agrícola (Pesa) e de securitização das dívidas do setor.

ARROZ

Outro assunto que estará na pauta do encontro é o pleito dos rizicultores de um reajuste no preço mínimo de garantia do arroz, que está em R$ 22 por saca de 50 quilos.

É com base nesse preço de garantia que o governo elabora as políticas de apoio à comercialização do produto, mas resiste em reajustá-lo, porque teme que uma alta resulte em elevação de preço ao consumidor final.