Título: Moody's: Brasil preparado para crises
Autor: Alberto Tamer
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2005, Economia & Negócios, p. B6

O crescimento da economia brasileira tem se mantido abaixo da média latino-americana, mas o País aumentou a sua habilidade para fazer frente a choques externos e, mais importante, não se espera nenhum acontecimento tão especial quanto a próxima eleição presidencial. Essa é a principal conclusão da análise periódica feita pela agência Moody's Investors Service. O estudo prevê para este ano um crescimento de 3,1%. Mesmo assim, o cenário econômico é melhor do que a performance da década de 80, quando o crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) ficou em 2,8%.

"Mais importante, as taxas de crescimento têm sido mais voláteis do que a média da região, que inclui não só os países sul-americanos, mas também do Caribe."

"O consenso geral, inclusive do governo, é que o País entrou numa fase de maior crescimento e menor volatilidade", registram os economistas da Moody's responsáveis pelo relatório, Luiz Ernesto Martinez-Alas, Mauro Leos-Lopez e Vincent J. Truglia.

A análise enfoca com mais detalhe essa volatilidade - altas e baixas anuais, sucessivas, de crescimento econômico - lembrando que, no caso do Brasil, ela "resulta mais dos recorrentes choques (externos) e de uma resposta bem-sucedida a eles.

O País foi duramente penalizado por vários tipos de choques domésticos e externos. No entanto, apesar disso, as políticas postas em prática e os esforços para continuar as reformas têm resultado efeitos positivos acumulados."

Os economistas da Moody's comentam os resultados das exportações, um evento novo, embora tardio, que poderia ter vindo antes. Mas acham difícil fazer previsões para curto e médio prazos.

Os números disponíveis não mostram um salto nos investimentos e na produção voltada para o exterior, mas, sem dúvida, o Brasil aumentou sua capacidade de competir com sucesso num mercado distorcido pelo protecionismo.

SEM CHOQUES POLÍTICOS

Ao contrário do que ocorreu na eleição anterior, a Moody's não espera grandes choques políticos no pleito presidencial de 2006. A chamada "coalizão presidencial" fragmentou-se no Congresso, mesmo com o governo obtendo algumas reformas. E, como prevendo o que realmente aconteceu na última semana, o presidente caminha para um governo de coalizão.

A coluna concorda com a impressão dos analistas da Moody's de que haverá muito barulho político à medida que a eleição se aproximar, um ponto importante do relatório. Mas os eleitores e o País parecem mais sensibilizados para os resultados positivos da disciplina fiscal e da aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal.

"Do nosso ponto de vista, é significativamente menos possível ocorrer um choque semelhante ao de 2002." De fato, mesmo com os novos eventos surgidos após a conclusão do relatório, a base da economia parece resistir.

DEPENDÊNCIA

Na avaliação da necessidade de obter recursos externos para financiar suas contas, os economistas da Moody's traçam um desenho que poderíamos chamar de otimista. Há frases como esta: "O feito mais notável do Brasil foi o forte ajuste externo, refletido pelo balanço das contas externas, de um déficit que chegou ao pico de US$ 34,1 bilhões, em outubro de 1998, para um superávit de US$ 14,2 bilhões, em abril de 2005, ou seja, 2,21% do PIB."

A agência destaca a diversificação das exportações brasileiras representadas por mais produtos sendo vendidos para mais compradores, como uma das causas básicas desse resultado.

Mas, dizem os analistas, a questão da vulnerabilidade e da liquidez nas contas correntes é um tema que eles continuam a observar de perto.

EMPRÉSTIMOS VÃO BEM

Neste cenário internacional de grande liquidez, os aplicadores estrangeiros - e brasileiros também - estão situados no exterior para captar recursos, que já chegaram neste ano a mais de US$ 20 bilhões. São recursos ociosos em busca de aplicações rentáveis, cujas taxas de juros dependem do risco do país beneficiado.

CENÁRIO ESTÁVEL

Não há perspectiva de que este cenário de dinheiro disponível venha a deteriorar-se no curto prazo. Mas a prudência parece estar inspirando os integrantes da equipe econômica, que não querem ser surpreendidos por alterações bruscas do mercado financeiro, que vive hoje num clima de tensão provocada pela necessidade de o governo americano colocar seus títulos que rendem menos do que os papéis de países emergentes, porém têm risco menor.

Mas a existência de capitais ociosos e a nossa capacidade de atraí-los não devem ser encaradas com muita admiração. Não são "investimentos" que chegarão ao Brasil, mas empréstimos que precisamos amortizar e pagar juros. Só no ano passado, o Brasil gastou nada menos que US$ 15 bilhões somente para pagar o juro, sem amortização do capital.

Para os aplicadores de em renda fixa, o Brasil ainda é um bom negócio, pois, como concluiu a análise da Mody's, o País soube sempre resistir bem a crises internas e externas e ainda crescer.