Título: ONU prevê crescimento menor da América Latina
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2005, Economia & Negócios, p. B16

Com políticas econômicas mais restritivas e uma queda nos preços internacionais de produtos agrícolas, o crescimento da América Latina poderá desacelerar em 2005 e 2006 em relação ao ano passado. A avaliação é da ONU, que ontem publicou seu relatório anual, no qual prevê que o crescimento internacional em 2005 ficará abaixo do obtido em 2004 e não conseguirá criar empregos suficientes.No que se refere ao comércio mundial, a ONU prevê crescimento de 8%, desempenho considerado positivo, mas bem abaixo do de 2004, quando o fluxo de bens cresceu em 11%. Ainda assim, a taxa no comércio é superior à média dos últimos cinco anos. Segundo os analistas, o impacto será importante para os países em desenvolvimento. O desempenho é explicado pela ONU diante da manutenção da demanda da China e da Índia por commodities, energia e outros produtos fundamentais para a pauta de exportação de países emergentes. Para 2006, o crescimento do comércio internacional deverá permanecer nos mesmos níveis deste ano.

O aumento nas exportações, porém, não será suficiente para lidar com o clima de tensão que cresce no comércio internacional. Um dos fatores seria o aumento das vendas de produtos têxteis da China, que têm causado preocupação em várias regiões do mundo. Outro problema é a dificuldade dos países para negociar um acordo de liberalização na Organização Mundial do Comércio (OMC). Para a ONU, as negociações não avançaram suficientemente em Genebra e a OMC precisa contribuir com a redução da pobreza.

Quanto ao PIB internacional, a ONU prevê crescimento em 2005 menor do que em 2004. No ano passado, o aumento do PIB mundial foi de 4,1%. Para 2005 e 2006, a taxa deverá ficar entre 3,25% e 3,5%. A maior desaceleração ocorrerá nos países ricos, que crescerão 2,5% a cada ano.

Para a maioria dos mercados emergentes, o ambiente internacional será positivo e as taxas de crescimento médio serão de 5,75% nos próximos dois anos. De fato, a ONU destaca que 2005 e 2006 serão marcados por uma "rara ausência de preocupações em relação aos mercados emergentes".

O fluxo de capitais também dá sinais de estar voltando aos mercados emergentes. Uma conseqüência disso poderia ser o aumento de investimentos diretos nos próximos anos. Entre as economias emergentes, porém, a América Latina apresentará as menores taxas: 4,25% neste e no próximo ano. Apesar de ser bem melhor que na década de 90, não se compara com os 7% da Ásia ou os mais de 5,5% nas economias em transição.

A ONU faz ainda dois alertas para a situação internacional. Um deles se refere aos desequilíbrios econômicos, principalmente a conta corrente deficitária dos Estados Unidos. O saldo negativo que era de US$ 650 bilhões em 2004 deverá fechar ano em US$ 700 bilhões, nível que deverá ser mantido ainda em 2006.

O outro alerta é quanto à relação entre o crescimento do PIB internacional e a criação de empregos. Segundo a ONU, a criação de postos de trabalho ficou estagnada no mundo entre 2003 e 2004, com apenas 500 mil empregos, ante 184,7 milhões de desempregados.