Título: Advogado diz que deputado fez oferta de suborno
Autor: José Antonio Pedriali
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Nacional, p. A10

Eduardo Alonso de Oliveira, advogado e ex-coordenador político do deputado José Janene (PP-PR), afirmou ao Ministério Público do Paraná que em fevereiro de 2000 o parlamentar, agora acusado de operar o esquema do mensalão no Congresso, lhe ofereceu US$ 200 mil "em espécie" para não depor em Comissão Especial de Inquérito aberta na época pela Câmara municipal de Londrina. Segundo Alonso, o deputado o chamou duas vezes em sua residência e disse que tinha uma proposta do então prefeito Antonio Belinatti para que parasse de dar entrevistas e viajasse - se aceitasse, o advogado receberia no ato US$ 50 mil; o restante seria dividido em outras parcelas de US$ 50 mil que chegariam às suas mãos até o dia 23 daquele mês, data prevista para seu depoimento na comissão instalada para apurar irregularidades em setores da prefeitura. Alonso é uma das mais importantes testemunhas do Ministério Público nas investigações que resultaram em oito ações civis contra Janene e Belinatti, ambos acusados de improbidade administrativa e enriquecimento ilícito. O deputado e o ex-prefeito negam atos ilícitos. Alonso depôs 9 vezes à Promotoria de Defesa do Patrimônio Público de Londrina, entre os anos de 2000 e 2002, e revelou detalhes acerca de contratações que teriam violado a Lei de Licitações. Ele declarou que Janene lhe teria dito que "o dinheiro viria da empresa de Transportes Coletivos Grande Londrina". O ex-coordenador político disse que "não aceitou a proposta" e que "Janene irritou-se". No dia seguinte à reunião com o deputado, Alonso encontrou-se com um amigo no centro da cidade e este lhe contou que Janene já havia levado para Londrina um certo "Ari Navalhada", tido como pistoleiro que trabalhava na desocupação de fazendas invadidas por sem-terra. O advogado disse que Janene "aludiu várias vezes que deveria tomar cuidado com sua família, especialmente com sua filhinha". Ele reside em Ji-Paraná, Rondônia, e não dá entrevistas. Aos promotores, desabafou: "Sinto-me ameaçado por esses grupos políticos que foram desmascarados, eles têm capacidade de manipulação de pessoas humildes e de elementos perigosos." "Alonso se tornou o grande refém do Ministério Público, ele foi torturado psicologicamente e ameaçado de prisão se não colaborasse com as investigações", reagiu o advogado criminalista Adolfo Góis, que defende Janene. "Os depoimentos de Alonso nunca tiveram valor. Seus depoimentos já estavam prontos quando eles os assinou. Caso não assinasse seria preso. O grande inimigo do Ministério Público no Paraná é o Janene porque ele move 10 ações indenizatórias contra promotores."