Título: CUT, MST e UNE dão apoio à versão de golpismo
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Nacional, p. 5

Carta subscrita por 43 movimentos sociais põe denúncias de corrupção em segundo plano e enfatiza suposto processo de desestabilização do governo Lula

A Carta ao Povo brasileiro, divulgada ontem, com a assinatura de 43 organizações e movimentos sociais, pôs em segundo plano as denúncias de corrupção que atingem o governo federal. Preferiu valorizar a tese de que está em curso um processo de "desestabilização do governo legitimamente eleito", além de enfatizar as críticas à política econômica. "Factóides" e "denunciazinhas" foram alguns dos termos usados na entrevista de apresentação da carta, que uniu da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Movimento dos Sem-Terra (MST) à União Nacional dos Estudantes (UNE) e organizações de mulheres, negros, sem-teto, desempregados. O texto pede a "completa e rigorosa investigação" das denúncias de corrupção e a punição dos culpados. Mas dedica poucos parágrafos ao assunto e propõe que a investigação se estenda a outros governos. Na entrevista, os representantes dos movimentos sociais procuraram desmerecer as denúncias. "Há uma verdadeira panfletagem na mídia contra o governo", disse Luiz Marinho, presidente da CUT. "A imprensa e quem denunciou estão forçando a barra", endossou João Pedro Stédile, do MST. Fazendo eco ao pronunciamento do ex-ministro José Dirceu, na sexta-feira, quando conclamou a sociedade a se unir em defesa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a carta convoca "cada cidadão e cada cidadã para uma grande e contínua mobilização que torne possível enfrentar a crise política". Segundo texto, essa crise foi iniciada pela elite, com o apoio dos meios de comunicação, e tem como alvo as eleições de 2006. "Querem antecipar o debate eleitoral", acusou Marinho. O texto da carta apresenta uma lista de sete medidas que o governo poderia tomar para sair da crise. Uma delas seria excluir do governo os "setores conservadores" e as "autoridades sobre as quais pairam suspeitas de irregularidades. "O governo pode construir a maioria a partir da mobilização popular", disse Analu Faria, da Marcha de Mulheres.

ENFRENTAMENTO Em relação à política econômica, a carta propõe o fim dos juros altos e da manutenção do superávit primário nos níveis atuais, entre outras coisas. Para o fortalecer a cidadania sugere a criação de escolas de formação política. Também propõe o enfrentamento do "monopólio dos meios de comunicação, garantindo sua democratização." A carta contou com a assinatura de cinco entidades ligadas à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entre elas a Comissão Pastoral da Terra e a Pastoral Operária. A direção da CNBB, no entanto, preferiu não assinar. Segundo sua assessoria, optou pela redação de outro documento sobre a crise, que será divulgado hoje ou amanhã.