Título: Wagner é convidado para a articulação política
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Nacional, p. A8

Petista deve assumir funções de Aldo Rebelo, do PC do B, mas reforma prevê a extinção do ministério

O baiano Jaques Wagner (PT) foi convidado ontem pelo presidente Lula para assumir a articulação política do governo. Chefe do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Wagner deve substituir Aldo Rebelo, que desde fevereiro de 2004 comanda o Ministério de Coordenação Política. O novo desenho da reforma prevê a extinção do ministério capitaneado por Aldo, que é do PC do B, e a criação de uma nova estrutura de assessoria ao presidente. A idéia é que Wagner acumule as duas funções: o Conselhão, hoje um tanto "apagado", e a articulação política do governo. A tática palaciana consiste em tirar do Planalto todos os ministros e secretários que foram informados sobre o pagamento de mesada a parlamentares, como denunciou o deputado Roberto Jefferson (RJ). Motivo: com a avaliação de que a crise política pode piorar ainda mais, o esforço desenvolvido pelos estrategistas do governo é para blindar o presidente. Aldo, portanto, deve voltar para a Câmara, já que é deputado licenciado. No 4.º andar do palácio - um abaixo do ocupado por Lula -, a impressão é de fim de festa. Na tarde de ontem, enquanto já se falava abertamente na sua saída do governo, o ministro da Coordenação Política recebia em seu gabinete o líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR). Detalhe: o alagoano Aldo é vizinho de porta do baiano Wagner e tem o gabinete literalmente "grudado" no de seu provável substituto. O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu também ficava naquele andar, mas acomodado em salas bem mais espaçosas, que agora passarão para Dilma Rousseff. Ainda ontem, a mudança não havia terminado. O 4.º andar do Planalto é palco de tantas intrigas que, quando Dirceu e Aldo viviam às turras, era conhecido como "Faixa de Gaza". Por ironia do destino, os dois se aproximaram depois do bombardeio de Jefferson.

ATÉ O FIM Ao aceitar o convite de Lula, Wagner praticamente abre mão de sua candidatura ao governo da Bahia, em 2006. Em suas sondagens para a mudança da equipe, o presidente tem avisado que quem entrar no governo agora ficará com ele até o fim do governo. Pela Lei Eleitoral, candidatos que ocupam cargos no Executivo devem deixar seus postos até 30 de abril. Ex-líder da bancada petista na Câmara, Wagner já foi ministro do Trabalho e é considerado um "curinga" pelo presidente. Diante da lista de nomes apresentada pelo PT para a cadeira de Aldo, Lula optou por Wagner por causa de seu bom trânsito no Congresso, em especial com "as duas alas" do PMDB - partido que o presidente quer unir e fortalecer na equipe. "Mas as conversas com o PMDB ainda não foram travadas", garantiu o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Tudo indica que a reforma não será concluída nesta semana, até porque o presidente quer conversar primeiro com o senador José Sarney (PMDB-AP), que não está no Brasil. O PMDB deve ganhar o Ministério de Minas e Energia, antes ocupado por Dilma. O mais cotado é Silas Rondeau, atual presidente da Eletrobrás e afilhado de Sarney. Um interlocutor de Lula disse ontem ao Estado que o PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), também deverá entrar na partilha da Esplanada. "Não dá para governar de costas para o Congresso", resumiu o assessor do presidente.