Título: Em CPI, Naldinho acusa polícia
Autor: Lígia Formenti Ronaldo Duarte
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Metrópole, p. C9

Ronaldo Duarte Barsotti de Freitas, o Naldinho, acusou policiais do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) de tentativa de extorsão. Preso desde o dia 6 sob acusação de tráfico de drogas, Naldinho prestou ontem depoimento na CPI de Armas, em Brasília. Em quase três horas de audiência, ele declarou que as chantagens de policiais começaram no fim do ano passado e garante ter fitas que provam a tentativa de extorsão. "No momento oportuno, elas serão divulgadas", afirmou. Naldinho e seu amigo Edson Cholbi Nascimento, o Edinho, filho de Pelé, foram presos no início do mês durante a Operação Indra, desencadeada pelo Denarc. Durante oito meses, policiais rastrearam cerca de 100 linhas telefônicas. Nas gravações, investigadores colheram uma série de indícios mostrando que Naldinho comanda o tráfico de drogas em Santos. As escutas revelaram uma suposta ligação dele com o Comando Vermelho - organização criminosa do Rio. Por tal conexão, ele estaria jurado de morte por outra facção, o Primeiro Comando da Capital (PCC). De moletom bege e calça amarela, Naldinho mostrou um temperamento frio e muita ironia. Questionado pela deputada Laura Carneiro (PFL-RJ) sobre os motivos de não viajar ao Rio, ele afirmou: "A cidade é muito violenta." A resposta levou o auditório da comissão da Câmara às gargalhadas. As ironias eram alternadas com respostas lacônicas e algumas acusações. Logo em suas primeiras declarações, ele afirmou que o ideal seria que policiais do Denarc tivessem o salário aumentado. Essa seria a alternativa, disse, para reduzir o número de achaques. "Trata-se de um bando de ladrões, com insígnia e revólver." Ele afirmou que, entre os autores da extorsão, estão policiais que atuaram na sua prisão. Pouco depois, ele desmentiu tal versão. Diante de um auditório pouco convencido, Naldinho contou como conseguiu construir seu patrimônio - três concessionárias de carro, uma mineradora de sucata e um centro automotivo - em tão pouco tempo. Estimados em R$ 4,5 milhões, seus bens, disse, são fruto de investimentos iniciados durante o período em que foi estivador (entre 2000 e 2003). Ele garantiu que chegava a ganhar até R$ 8 mil mensais com a atividade. Além disso, no período, disse que comprou licenças de táxi, depois dois caminhões. Afirmou que se dedicou, ainda, à compra e venda de imóveis e obteve dois empréstimos - quitados - de Nicolau Hau Júnior. Naldinho negou conhecer policiais detidos no mesmo dia da sua prisão, que supostamente fariam a sua segurança pessoal, e pessoas que estavam numa chácara em Ribeirão Pires, portando armas e drogas. Ele admitiu apenas conhecer Ademir de Oliveira, o Pesão, e Cláudio Conceição Júnior, o Gato. Ambos foram companheiros de cela de Naldinho, no período em que ele foi preso por tráfico de drogas. Gato morreu assassinado, pouco antes de a Operação Indra ser deflagrada. O deputado Moroni Torga, que está à frente da CPI, considerou satisfatório o depoimento de Naldinho. "Extremamente arrogante, ele apresentou um discurso repleto de contradições. Mas que, certamente, vai ajudar na investigação", afirmou. Para o deputado, o depoimento reforçou a idéia de que as atividades de Naldinho também serviram para lavar dinheiro de tráfico de drogas. "Muita coisa ainda está por vir. Foi um bom começo", completou.