Título: Brasil e Rússia voltam a negociar exportação de carne
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Economia & Negócios, p. B7

Conversações entre os dois países serão retomadas em Genebra, terça-feira

O Brasil voltará a negociar a venda de carne à Rússia. Segundo o negociador-chefe da Rússia para temas comerciais, Maxim Medvedcov, o diálogo será retomado terça-feira, em Genebra. "Estamos dispostos a negociar; o Brasil é um parceiro muito importante", afirmou. As negociações estão paradas há seis meses. A Rússia fixou cotas para os principais fornecedores do produto para negociar a sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC). No caso do frango, o Brasil poderia ficar com 30% das cotas - 70% seria dividido entre americanos e europeus. As cotas de carnes bovina e suína do Brasil também são inferiores às dos demais parceiros de Moscou, o que explica o pequeno espaço do País ante a média histórica de vendas aos russos. Há semanas, os russos fecharam um acordo sobre o volume de carne americana que poderia entrar em seu mercado. Uma nova divisão de cotas só ocorreria em 2009, mas Medvedcov disse que o entendimento com os EUA não significa o fim das negociações com o Brasil. "Podemos avaliar esse tema, depende do que o Brasil vai propor", disse. Até ontem, os negociadores brasileiros em Genebra não haviam recebido instruções finais de Brasília para a negociação. Pela primeira vez, o próprio embaixador do Brasil na OMC, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, vai chefiar a delegação. Na última negociação, nem os presidentes Vladimir Putin e Lula chegaram a um acordo. Para os exportadores, se as barreiras caíssem, o Brasil poderia vender US$ 2 bilhões aos russos. Mas os brasileiros estão vendendo aos russos o dobro da carne fixada nas cotas. As companhias russas estariam encerrando contratos com empresas americanas com problemas sanitários, o que serve de justificativa para o governo local. A carne brasileira também tem melhores preços. O problema virá quando a Rússia for admitida na OMC. Na entidade, a administração das cotas é determinada segundo regras internacionais. Na semana que vem, o Brasil também iniciará conversações com os Estados Unidos sobre os subsídios ao algodão. No início do ano, os subsídios americanos foram condenados pela OMC, a pedido do Brasil. Washington tem até a próxima sexta-feira para modificar suas leis para não sofrer retaliações. O Itamaraty espera chegar a um acordo sobre a questão nos próximos dias para evitar a sanção e espera que a Casa Branca envie ao Congresso uma proposta de lei modificando os subsídios.