Título: CMN resiste e meta fica em 4,5%
Autor: Sheila D Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Economia & Negócios, p. B4

Alvo deste ano deve ser atingido também em 2006 e 2007; governo não quer dar impressão de tolerância maior com a inflação

O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu ontem manter a meta de inflação para 2006 em 4,5% e fixar a de 2007 também em 4,5%, assegurando um plano de vôo mais tranqüilo para a trajetória de redução do índice oficial de inflação, o IPCA, hoje em 8,05%, conforme antecipou o Estado. A estratégia definida pelo CMN representa, na prática, a possibilidade de o governo trabalhar com uma política monetária (definição de taxas de juros para conter a inflação) mais branda, acomodando com maior margem de manobra eventuais choques que poderiam exigir nova alta dos juros. Para este ano, a meta de inflação também é de 4,5%, embora o Banco Central (BC) já tenha definido que perseguirá o índice de 5,1%. As estimativas do mercado financeiro são de que a inflação medida pelo IPCA fique em 6% este ano. Isso significa que, mantida a trajetória de queda do índice, não será uma tarefa difícil aproximar o resultado de 2006 do chamado centro da meta e, certamente, alcançar os 4,5% no fim de 2007, já no primeiro ano de mandato do próximo governo. A discussão sobre dar mais flexibilidade ao regime de metas, permitindo uma acomodação mais suave em momentos de crise, é antiga. O governo sempre resistiu por entender que isso poderia ser interpretado como tolerância a uma inflação maior. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) defendia uma meta de 5,1% em 2007 para permitir a queda mais rápida dos juros e, conseqüentemente, maior recuperação da atividade econômica. Com a decisão do CMN, a equipe econômica encontrou uma forma de perseguir a queda da inflação sem mudar o patamar de referência do mercado: manteve os 4,5%, mas permitiu que o resultado seja alcançado nos próximos dois anos. Ao anunciar a decisão, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, confirmou que a expectativa é consolidar a inflação em torno de 4% nos próximos anos para, somente depois, o País buscar níveis "mais ousados", abaixo desse porcentual. O comportamento atual da inflação, apesar de mostrar controle, segundo ele, não permite grandes comemorações. "Os dados recentes são bons, mas não nos autoriza m a festividades nem a antecipar decisões", afirmou, ao ser questionado se a decisão do CMN não era um sinal de que a inflação deste ano ficará bem acima dos 5,1% que a autoridade monetária diz estar mirando. Palocci defendeu a política monetária e disse que somente o tempo mostrará se a inflação foi definitivamente debelada. Segundo ele, todos os indicadores confirmam o sucesso da política econômica. O governo, garantiu Palocci, não vai tolerar mais inflação como forma de garantir mais crescimento econômico. 'A única conquista que se tem ao tolerar uma inflação maior é uma inflação maior; crescimento econômico não se sustenta dessa forma", disse, ressaltando que o crescimento não será ruim neste ano. Palocci considerou como prova de maturidade do debate econômico a proposta apresentada pelo ex-ministro da Fazenda deputado Delfim Netto (PP-SP) de reduzir a zero o déficit nominal - diferença entre receitas e despesas pública, inclusive gastos com juros. Para isso, seria necessário um corte radical nas despesas, que passaria pela redução das verbas vinculadas às áreas de saúde, educação e outras, por conta de dispositivos constitucionais. Palocci não quis se comprometer com a proposta de Delfim, mas tampouco a atacou. "Antes de 2002 e 2003, a fixação de metas para o déficit nominal não estava na pauta do debate porque isso não era possível", disse. Segundo ele, a reafirmação do compromisso do governo com a política atual foi o que tornou essa realidade possível. "Nesse caminho, é possível reduzir o déficit nominal e até zerá-lo, mas não tratamos isso como meta", disse. No passado, o conceito de déficit nominal foi abandonado devido aos elevados índices de inflação no País.