Título: Meta de inflação exige reparos
Autor: Bóris Tabacof
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Economia & Négocios, p. B4

A confirmação, pelo Conselho Monetário Nacional. da meta de inflação de 4,5% para 2007, repetindo o que já havia sido estabelecido para 2006, sinaliza para três aspectos importantes. Em primeiro lugar, a tentativa de consolidação de um patamar inflacionário abaixo de 5% ao ano, a ser alcançado nos próximos dois anos.

Em segundo, o recado de que a autoridade monetária manterá postura austera, forçando a convergência para a meta, ainda que isso implique juros elevados por um longo período.

E, terceiro, a urgente necessidade de aperfeiçoamento do sistema de metas, que não pode continuar atuando contra o nível de produção e do emprego. São necessárias alterações que impeçam que o sistema de metas colida com o crescimento da economia.

Pelo sistema em uso, a elevação eficaz da taxa de juros para coordenar as expectativas inflacionárias dos agentes é tanto maior quanto mais rápida se der esta convergência.

O problema é que em situações de choques adversos esse instrumento revela-se pouco eficaz, promovendo retrações desnecessárias do produto e da renda. Vivemos o efeito colateral dos juros. A elevação da taxa tende a atrair capitais externos, especialmente aqueles de curto prazo. Esse ingresso valoriza a moeda nacional, o que acaba prejudicando a balança comercial do País. Não podemos caminhar para o aumento da vulnerabilidade externa.

A consideração do emprego como parâmetro adicional para a orientação do uso da taxa de juros no controle da inflação é importante. O estatuto do Banco Central americano estabelece que a política monetária deve levar em conta o pleno emprego, a estabilidade dos preços e a módica taxa de juros de longo prazo.

A fixação de meta em períodos bienais ou trienais, com o acompanhamento por período de 12 meses, distinto do ano-calendário, também é necessária. Ao considerar a inflação para o ano-calendário, a memória de eventuais choques de oferta é carregada ao longo de todo o ano e força ainda mais para cima o choque de juros.

A discussão cuidadosa sobre a utilização do IPCA como parâmetro para fixação da meta é outro passo importante. Os preços monitorados representam cerca de um terço desse índice e são imunes à elevação da taxa de juros.

Por fim, seria interessante a discussão de medidas compensatórias para os setores agrícola, industrial e de serviços que apresentassem estabilidade do nível de preços. Embora bem mais complexa, essa medida evitaria que o aumento da taxa de juros, quando necessário, penalizasse igualmente todos os setores, como ocorre hoje em dia.

Não queremos discutir apenas se a meta será de 4%, 5% ou 6%. O que queremos é que a discussão sobre o tema da meta de inflação, que tanto afeta o País, seja ampla. Esse assunto não pode ser exclusividade do Conselho Monetário Nacional.