Título: Manutenção de juros altos adia a retomada econômica
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Economia & Negócios, p. B3

Para economistas, continuidade do aperto monetário reduzirá o crescimento do PIB

A manutenção do aperto monetário nos próximos meses vai adiar a retomada da economia, acreditam economistas. Se os juros se mantiverem no patamar de 19,75%, como sugere a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) pode ficar abaixo do esperado. Para Alex Agostini, economista da GRC Global, os juros deveriam ter parado de subir já em fevereiro ou março, para começarem a cair em julho. "A ata sugere que os juros vão ficar estáveis, mas num patamar muito elevado, até setembro", diz Agostini. "Com isso, o crescimento deve ser de 3,1% este ano, no máximo." Para ele, se os juros começassem a cair em julho, o PIB poderia crescer 3,5%. "O início da queda dos juros em julho melhoraria as expectativas dos empresários, que poderiam adiantar a retomada dos investimentos", acredita o economista. Roberto Padovani, sócio da Tendências Consultoria Integrada, considera-se otimista e acredita que a política monetária vai desacelerar o crescimento do PIB para 3,2%. "Mas há analistas mais pessimistas, que acreditam num crescimento de, no máximo, 2,5% este ano." Os pessimistas acreditam que o aumento dos juros, aliado à incerteza política e à apreciação cambial, atingiram em cheio os investimentos, que não vão se recuperar tão cedo. "Mas eu acho que o consumo vai retornar e impulsionar o crescimento, porque o crédito continua muito bem e haverá ganho de massa salarial neste ano", afirma Padovani. O economista-chefe para América Latina da consultoria IdeaGlobal, Larry Krohn, acha que a ata é consistente com a projeção de que o Copom começará a baixar os juros em setembro. Mas Krohn mostrou-se surpreso com a avaliação do Copom de que a atividade vai se recuperar no segundo semestre. "Acho estranha essa avaliação, pois os juros reais estão elevados e a política fiscal, apertada", afirmou. Para o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida, a atividade econômica está comprovadamente estagnada, como resultado dos juros. "O grande foco da indústria é a mudança da política econômica", disse.

FIESP Em nota distribuída à imprensa, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou que a continuidade da política de juros altos, anunciada ontem na ata do Copom, e a meta de inflação de 2006, de 4,5%, "empurram o Brasil para a recessão." "Ao contrário, os resultados da indústria e do setor de serviços foram decrescentes no primeiro trimestre", disse o presidente da Fiesp. "Neste segundo trimestre, que está terminando agora, já temos fortes indícios de retração na economia", projetou Skaf.