Título: BC indica que juro demora a cair
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Economia & Negócios, p. B1

Ata do Copom encerra o processo de alta da Selic, mas afirma que taxa fica em 19,75% por um período 'suficientemente longo'

A taxa de juro parou de subir em junho, mas não voltará a cair tão cedo. Esse é o principal recado da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem. O documento dá por encerrado o processo de elevação gradativa dos juros iniciado em setembro do ano passado, para conter a inflação. Informa, por outro lado, que a taxa Selic ainda deverá permanecer no nível atual, de 19,75% ao ano, por um período "suficientemente longo". De acordo com a autoridade monetária, os preços no atacado pararam de subir e houve até deflação em maio. Também os índices de preços ao consumidor estão desacelerando. Esses fatores permitem avaliar que "houve redução na persistência de focos localizados de pressão na inflação corrente". Além disso, o crescimento da economia em ritmo mais lento estaria "condizente com as condições de oferta", de modo a não resultar em pressões inflacionárias significativas. As projeções do BC continuam apontando para uma inflação acima do objetivo de 5,1% para 2005, mas abaixo do centro da meta (4,5%) em 2006. Ou seja, tudo indicaria que o atual nível de aperto monetário é suficiente para se caminhar em direção às metas de inflação, sem necessidade de sacrifício adicional, que ameaçaria jogar a economia numa recessão. "O Comitê avaliou que a perspectiva de manutenção da (atual) taxa de juros básica por um período suficientemente longo de tempo já seria capaz de proporcionar condições adequadas para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas, não havendo necessidade de prosseguir com o processo de ajuste iniciado em setembro de 2004", diz a ata. O novo diagnóstico sobre a inflação baseia-se principalmente no comportamento dos preços do atacado, que recuaram 0,98% em maio, de acordo com o Índice de Preços no Atacado - Disponibilidade Interna (IPA-DI). Esse índice explica por que o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), que mescla índices no atacado e no consumidor, apresentou deflação de 0,25% no mês passado. A variação negativa do IPA reflete não só o recuo dos preços agrícolas, repetindo o que ocorreu em abril, como também começa a registrar a deflação de produtos industriais. Essa tendência, segundo o Copom, se explica tanto pela valorização do real em relação ao dólar quanto pela própria ação da política monetária, podendo ter efeitos benéficos sobre a variação futura dos preços ao consumidor - que subiriam menos. O texto diz ainda que a freada na taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que caiu para 0,3% no primeiro trimestre, também permitiu reduzir as pressões de demanda sobre a inflação. Para os próximos trimestres, entretanto, o Copom prevê que o ritmo de crescimento da economia "deverá voltar a acelerar-se". A grande dúvida, sinaliza a ata, é se os investimentos na ampliação da capacidade produtiva da economia - que também caíram com a desaceleração do PIB - serão suficientes para aumentar a oferta de bens e serviços e atender à demanda. No âmbito externo, o Copom avalia que os mercados financeiros internacionais permanecem voláteis, mas as expectativas continuam bem comportadas, contribuindo para "a baixa probabilidade de alteração das políticas monetárias nas principais economias mundiais", principalmente nos Estados Unidos. Apesar das incertezas sobre a trajetória do preço do petróleo, o Copom decidiu manter em seu cenário a hipótese de que não haverá reajuste nos combustíveis em 2005.