Título: Uma ata bastante ortodoxa
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Economia & Negócios, p. B2

Justamente porque a decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) foi bem recebida, a ata da reunião de 15 de junho era aguardada com grande curiosidade por quem queria saber se as autoridades monetárias dariam alguma indicação sobre os rumos da taxa Selic. A ata não traz essa informação. O Copom limitou-se à prudente repetição de que, diante de alguma pressão inflacionária, não hesitará em voltar a apertar a política monetária. Como se podia esperar, foi a constatação de que os índices de inflação estão melhorando que levou o Copom a manter a taxa fixada em maio. Mas ficou bem claro que as autoridades monetárias não estão inclinadas a correr nenhum risco que possa dar novo fôlego à inflação. O Copom não é um organismo que, no curto prazo, se preocupe em favorecer o crescimento da economia. Ao contrário, não esconde sua satisfação ao verificar que a melhoria nos índices de preços foi acompanhada de um arrefecimento da produção industrial. Se as autoridades monetárias não optaram por reduzir a taxa Selic, limitando-se a mantê-la, é porque a inflação prevista para este ano ainda está acima da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Daí se poderia concluir que, diante de uma nova melhora nos índices de preços, o Copom poderá, finalmente, optar por uma redução da Selic em julho. Mas o Copom não gosta de jogadas arriscadas. Em primeiro lugar, a tendência de baixa nos preços que se manifesta atualmente não permite projetar, para o ano, uma inflação inferior à da meta fixada pelo CMN. Mas a ata mostra que o Copom tem outras preocupações que o levam a manter atitude prudente. Em maio, o preço do petróleo havia acusado uma ligeira redução; em junho, está crescendo assustadoramente, o que pode levar a um novo reajuste dos preços internos de combustíveis. Também em maio foi corrigido o salário mínimo e ainda não houve tempo para que se possa avaliar plenamente seu efeito sobre a demanda. Finalmente, a crise política poderá afetar a economia e, notadamente, o preço do dólar. Na realidade, o Copom aproveitou a ata que acaba de ser publicada para mostrar sua satisfação com os resultados da atual política monetária, que conseguiu reverter a tendência de alta dos preços sem, no entanto, afetar negativamente a produção industrial e o comércio.