Título: Exilados haitianos criticam Brasil
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Internacional, p. A20

Partidários de Aristide culpam tropas brasileiras por insegurança

Um ano após o afastamento de Jean-Bertrand Aristide da presidência do Haiti, seus partidários se mobilizam na Europa para denunciar o aumento da insegurança no país por causa da ineficiência das forças da ONU, comandadas por oficiais brasileiros. Até agora, essas forças não conseguiram restabelecer a segurança no país e a violência continua aumentando. Aristide está exilado na África do Sul. Um militar brasileiro foi ferido terça-feira no braço em confronto com partidários de Aristide. Fontes diplomáticas brasileiras disseram que o militar, um tenente cujo nome não foi revelado, passa bem após ter sido submetido a cirurgia na República Dominicana. Segundo organizações de defesa dos direitos humanos, mais de mil pessoas foram mortas a tiros entre setembro e maio. A prova do malogro da atuação brasileira, segundo organizações de exilados haitianos em Paris, foi o pedido feito recentemente pelo general brasileiro Augusto Heleno Ribeiro para ser substituído no comando da missão de paz, que reúne 7.500 homens de vários países. Os exilados, porém, não acham que os grupos próximos a Aristide sejam os principais responsáveis pela escalada da violência. Os partidários de Aristide afirmam que o contingente brasileiro não está à altura de sua missão e só está no Haiti para apoiar as pretensões do Brasil de obter um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Segundo os exilados, o principal objetivo da missão - manter a ordem e segurança - pouco importa para os soldados brasileiros. Eles também consideram demagogia a ida da seleção de futebol brasileira para o Haiti quando se preparava a chegada dos soldados, imitando a "diplomacia do pingue-pongue" usada pelos EUA quando se reaproximaram da China. Segundo eles, é uma tática superada. Outra crítica aos militares brasileiros é o pouco interesse em combater a crescente delinqüência, particularmente o grupo de Dread Wilmé - o homem mais temido de Porto Príncipe, responsável pelo terror na favela de Cité Soleil, onde 300 mil vivem na miséria. Hoje, metade da cidade está nas mãos de gangues e as tropas brasileiras não ousam agir nessas áreas, acusam os exilados.

ORÇAMENTO A missão no Haiti é a segunda mais cara da ONU - receberá US$ 494 milhões nos próximos dois anos -, atrás apenas da operação na Libéria (US$ 760 milhões). O orçamento total aprovado ontem pela Assembléia-Geral da ONU para suas 14 missões de paz é de US$ 3,2 bilhões.