Título: Clinton diz que globalização está superada
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Internacional, p. A20

Em visita ao Brasil, ex-presidente dos EUA fala sobre o conceito de interdependência além da economia

O ex-presidente americano Bill Clinton fez ontem uma rápida visita a São Paulo. O objetivo foi participar de uma sessão de autógrafos de sua autobiografia Minha Vida e de uma palestra para o seminário Liderança e Prosperidade Coletiva. Na palestra, Clinton destacou que o conceito de globalização está hoje superado pela interdependência entre nações - que abrange muito mais do que as relações econômicas. "Se você acredita que um mundo de interdependência e fronteiras abertas é inevitável - e não pode matar ou prender todos os seus adversários -, vai precisar adotar a política de ter muitos amigos e poucos inimigos", discursou. Clinton se disse um otimista em relação ao Brasil e afirmou que, em suas viagens para os países mais pobres, cita sempre os exemplos de criatividade brasileira em programas como o bolsa-escola e o de distribuição de medicamentos para portadores do HIV. "O bolsa-escola é um programa que envolve toda a família no projeto da educação dos filhos e a distribuição de medicamentos para soropositivos é um investimento que economiza milhões de recursos em internações hospitalares." O ex-presidente americano também conclamou os países latino-americanos a retomar esforços para construir a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), criticou o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e citou o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela como exemplo de líder. "Com o barril de petróleo a US$ 60, o sr. Chávez pode promover seu projeto nacionalista e sua voz ressoa entre os povos mais pobres do continente", disse. "Mas sua política não tem promovido o crescimento da economia venezuelana."

ABATIDO Pela manhã, Clinton esteve numa livraria num shopping center no bairro do Morumbi. Abatido, muito mais magro do que estava nos oito anos em que exerceu a presidência dos EUA, entre 1993 e 2001, parecia não estar totalmente recuperado das duas cirurgias cardíacas a que se submeteu nos últimos meses. Sua fisionomia frágil - vestindo camisa branca e reluzente gravata azul-celeste - estava longe da imagem altiva da capa do livro Minha Vida, um catatau de 920 páginas, vendido por R$ 65. Mesmo assim, cumpriu a promessa de autografar 500 exemplares. Em pé - por exigência da segurança -, um lacônico Clinton apertava a mão dos compradores do livro, perguntava-lhes o nome e assinava uma das páginas do exemplar. Sorriu apenas, complacentemente, quando o repórter do Estado o provocou sobre a possibilidade de sua mulher, Hillary, ser a próxima presidente dos EUA. "Seu nome, por favor?", perguntou. Autografou o livro e encerrou o rápido contato com um "thank you".