Título: Sem reforma a UE desaba, adverte Blair em Bruxelas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Internacional, p. A19

O líder britânico defendeu-se das acusações de ter sido responsável pelo fracasso da recente cúpula da União Européia

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, disse ontem no Parlamento Europeu que, se a União Européia (UE) não mudar, desmorona. Blair vai exercer a presidência rotativa da UE nos próximos seis meses, a partir do dia l.º, e defendeu uma reforma da instituição para enfrentar os desafios do século 21. Defendeu-se das acusações de ser o responsável pelo fracasso da recente cúpula da UE, definindo-se com um líder pró-Europa. "Sou um europeísta apaixonado", disse, provocando risadas do plenário que, segundo um de seus membros, não consegue "identificar um único inglês com essa qualidade". Blair sorriu, elogiou o clima democrático do Parlamento e prosseguiu: "Acredito na Europa como um projeto político, com uma forte dimensão social." E, numa resposta às acusações do primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, de que ele, Blair, minou a cúpula da semana passada ao bloquear o orçamento da União Européia, acrescentou: "Eu jamais aceitaria reduzir a Europa a um simples mercado econômico." A mesma acusação partiu do chanceler alemão, Gerhard Schroeder, em entrevista ao jornal Bild. O líder alemão advertiu implicitamente Blair que não quer abrir mão das vantagens orçamentárias de seu país na UE, afirmando: "Aqueles que querem destruir o modelo social europeu motivados por egoísmo nacional ou populista agridem os desejos e os direitos das futuras gerações." O presidente francês, Jaques Chirac, também não poupou críticas a Blair, classificando-o de "intransigente" por propor em troca das vantagens orçamentárias usufruídas pela Grã-Bretanha uma reforma do Programa Agrícola Comum - que, segundo Blair, favorece a França em detrimento de seus parceiros. Blair respondeu às críticas com um discurso equilibrado. Recordou sua luta pela integração da Grã-Bretanha à Europa que remonta a 1975, quando, em referendo, os britânicos aprovaram a adesão do país à UE. Referiu-se também a sua condição de líder de um partido de centro-esquerda (o Trabalhista), para relacionar alguns êxitos de seu governo: introdução do salário mínimo na Grã-Bretanha; o mais bem-sucedido combate ao desemprego da Europa; e investimentos no setor público mais expressivos dos últimos cinco anos no continente. De sua parte, os eurodeputados, aparentando ceticismo em relação ao governo britânico da UE, aplaudiram Blair por apenas 30 segundos, mas deram a ele o benefício da dúvida.