Título: 2.º turno define hoje presidente do Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Internacional, p. A18

Candidatos ultraconservador e moderado chegam tecnicamente empatados à votação, segundo pesquisas de confiabilidade duvidosa

Ultraconservadores e moderados iranianos travam hoje, no segundo turno das eleições presidenciais, um de seus mais duros combates nos 26 anos de regime islâmico no país. O conservador p ragmático Akbar Hashemi Rafsanjani, de 70 anos, favorável à reaproximação com os EUA e a reformas para abertura do mercado, enfrenta o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, de 49 anos, defensor do controle estatal da economia e contrário à liberalização dos costumes. Um dos homens mais ricos do Irã, Rafsanjani presidiu o país de 1989 a 1997. Ahmadinejad é o atual prefeito de Teerã e tem grande apoio entre os pobres. Ambos prometeram redistribuir a riqueza propiciada pelo petróleo - o Irã é o quarto maior produtor. Pesquisas mostram os dois candidatos praticamente empatados, mas no Irã as sondagens de opiniã o são pouco confiáveis. Ontem as autoridades iranianas anunciaram a prisão de 26 pessoas, incluindo pelo menos um "militar destacado", por envolvimento em 104 irregularidades no primeiro turno da eleição, na sexta-feira passada. Candidatos derrotados acusaram a Guarda Revolucionária e a milícia religiosa Basij de ações em apoio a Ahjmadinejad, contrariando as leis eleitorais, que proíbem envolvimento de militares nas campanhas. Ahmadinejad foi oficial da Guarda e instrutor na milícia. Ontem também o encarregado pelo Ministério do Interior de supervisionar as eleições, Mojtaba Rashad, pediu ao Judiciário que proíba membros dessas duas unidades de atuarem como observadores em seções eleitorais. Controlado pelos clérigos, o Judiciário tem autoridade para ignorar a requisição do ministério, mas, segundo analistas políticos, os líderes do país parecem preocupados em garantir lisura à votação, para evitar novas acusações de fraude que poderiam comprometer a credibilidade da eleição. Nas disputas de última hora pelo voto, partidários de Rafsanjani - incluindo candidatos reformistas derrotados no primeiro turno - dizem que Ahmadinejad vai pôr a perder as modestas reformas do atual presidente, Mohammad Khatami. Também acusam seu rival de defender uma política externa que isolará o Irã. Ahmadinejad negou ontem rumores de que iria impor segregação dos sexos em público e forçar as mulheres a usar o chador (o véu e capa preta que cobrem todo o corpo, exceto o rosto). O chador tornou-se obrigatório após a Revolução Islâmica (1979). No entanto, nos oito anos da presidência de Khatami os costumes foram relaxados e muitas mulheres usam véus coloridos e túnicas sobre calças jeans. Ao contrário da Arábia Saudita, país sunita onde mulheres só podem andar acompanhadas de um homem na rua se este for seu marido ou um parente, no Irã elas têm mais liberdade. "Os verdadeiros problemas do país são o desemprego e a falta de habitação, não o que se veste", rebateu Ahmadinejad na TV estatal. A disputa entre as duas tendências é tão acirrada que, pela primeira vez desde a revolução, nenhum dos candidatos conquistou mais de 50% dos votos no primeiro turno, forçando nova votação. Rafsanjani obteve 21% e Ahmadinejad, 19,5% - apenas alguns décimos a mais que o terceiro colocado, o reformista Mahdi Karroubi. O resultado surpreendeu os meios políticos, já que as pesquisas indicavam vitória de Rafsanjani.