Título: Em vídeo, Cassol diz que paga R$ 20 mil por mês a aliados
Autor: Nilton Salina
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Nacional, p. A17

Na gravação, governador de RO revela nomes de quatro deputados, todos negam receber mesada

A divulgação de novos trechos de fitas gravadas pelo governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), está causando reviravolta no caso do pedido de propina envolvendo deputados estaduais. A denúncia veio à tona no dia 15 de maio, quando o Fantástico, da TV Globo, mostrou cenas de sete deputados pedindo R$ 50 mil por mês a Cassol para apoiar o governo. Agora, a TV Bandeirantes mostrou o governador dizendo que paga R$ 20 mil por mês a parlamentares da base aliada. Seriam os deputados Neodi Oliveira (sem partido) e os tucanos Beto do Trento e Everton Leoni. Na gravação, onde aparece conversando com o deputado João da Muleta (afastado do PMDB), um dos sete acusados de pedir propina, o governador diz que o ex-chefe da Casa Civil, João Cahulla, estaria pagando R$ 20 mil por mês para a base aliada e ainda para o deputado estadual Renato Velloso (PPS).

"Estou fechado com o (deputado) Renato (Velloso), estou fechado com o Everton (Leoni), estou fechado com o Beto (do Trento), estou fechado com o Neodi (Oliveira). O pessoal nosso teve falando para eles, quanto o Cahulla está ajudando eles. Cahulla falou assim: tá ajudando com 20 contos para cada um. Será que é isso mesmo ou mais?", diz Cassol, contando nos dedos. João da Muleta confirma. Todos os deputados da base aliada negaram que tivessem recebido dinheiro do governador. Neodi Oliveira, líder do governo na Assembléia, disse que havia entrado em contato com seu advogado para interpelar Cassol na Justiça."Não faço parte desse lodaçal." Em uma outra conversa, com o deputado Ronilton Capixaba (afastado do PL) - outro dos sete acusados de pedir propina -, o governador explica que 50% das obras executadas no Estado pertencem ao Sindicato da Construção Civil (Sinduscon). Cassol explica que Capixaba deveria pegar dinheiro no sindicato. "Tem dez obras, cinco é do Sinduscon. O deputado não vai fazer obras, não vai fazer nada. Vai lá e administra, via direto. Vai lá, chegou, pegou, acabou.Não precisa tá se desgastando com ninguém. Vai direto com o pessoal. E cinco (obras) eu administro aqui", diz Cassol ao deputado acusado de pedir propina. O governador vai mais além na conversa com Capixaba. "Tem quantos aqui em cima disso aí.Vai no Tribunal de Contas, tem gente. Vão no Ministério Público, tem gente. Vai no Tribunal Federal, tem gente." Em uma outra fita, o governador conversa com o deputado Amarildo Almeida (afastado do PDT), outro acusado de pedir propina. Cassol diz que existe uma lista de 14 deputados que querem receber R$ 50 mil cada um. Almeida diz que nem teria ido até a casa do governador se soubesse que o assunto era aquele e que, no caso dele, Cassol iria economizar os R$ 50 mil. O deputado disse ao Estado que iria responsabilizar o governador criminalmente, porque quase foi linchado depois que apareceu no Fantástico conversando com Cassol. "Na gravação, peço uma obra para ele. Fiz isso porque um empresário havia me dito que metade das obras executadas pelo governo pertenciam ao Sinduscon. Eu estava investigando para saber se isso era verdade." O governador disse que a fita em que apareceu oferecendo propina a Almeida no Jornal da Band, da TV Bandeirantes, foi editada. "Se tivessem colocado no ar alguns segundos antes, ficaria claro que eu estava repetindo o que haviam me dito. Mas a fita original já foi mandada para a TV Bandeirantes. Não recorrerei à Justiça porque entendo que a emissora foi induzida a erro", afirmou.

MENSALÃO Segundo o governador, a proposta de pagamento do mensalão de R$ 50 mil foi feita por sete deputados. Depois disso, Cassol explica que repassou a mesma proposta para outros parlamentares, para ver até onde eles iriam. "Em muitas gravações eu fiz simulações. Se eu estou gravando e quero que o pessoal abra o jogo, eu tenho que instigar", disse o governador. Ontem pela manhã, a Polícia Federal apreendeu na Assembléia Legislativa de Rondônia folhas de pagamento, livros contábeis, folhas de ponto e cópias de cheques usados em pagamento de salário. A PF investiga se houve desvio de dinheiro.