Título: Gasto da Petrobrás com patrocínio e propaganda triplica na gestão do PT
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Nacional, p. A14

Estatal movimentará, este ano, R$ 700 milhões, contra R$ 252 milhões em 2002; empresa diz que obedece instrução normativa

A empresa mais poderosa do governo, que ano passado lucrou R$ 18 bilhões, triplicou despesas com publicidade e patrocínio e os funcionários contratados na área, no governo PT. Com o aval da Secretaria Especial de Comunicação, do ministro Luiz Gushiken, a gerência de Comunicação Institucional da Petrobrás vai movimentar este ano R$ 700 milhões. Em 2002, ano que antecedeu a mudança de governo, os custos somaram R$ 252 milhões. Além de patrocínios culturais e esportivos, tradicionalmente bancados pela Petrobrás, esta área financia a publicidade empresarial. Patrocina campanhas sociais, eventos regionais e, desde 2003, passou a ser forte financiadora do movimento sindical. A empresa alega que obedece a uma instrução normativa de 1993 que obriga as estatais a submeter à Secretaria de Comunicação todas as suas ações de publicidade e patrocínio. Segundo comentários de funcionários, são comuns reuniões na sede da empresa, no Rio, com participação de Gushiken. Em depoimento anteontem à CPI dos Correios, Maurício Marinho, ex-chefe de Compras da empresa, comentou o envolvimento direto de Gushiken em contratos de publicidade de estatais sob suspeita de irregularidades. Parte das liberações de recursos da Comunicação Institucional da Petrobrás ocorre sem concorrência, mas como escolha dos dirigentes da empresa, a maioria sob a rubrica "Contratos de Prestação de Serviços", que abriga desde eventos cerimoniais até campanhas sindicais. Os 25 anos da CUT, comemorados no ano passado, por exemplo, mereceram R$ 500 mil da Petrobrás, sem exigência licitatória. O segmento "Prestação de Serviços" movimenta verba de R$ 179 milhões, 30% dela liberada sem licitação. É o segundo maior orçamento da área. Perde apenas para a de Publicidade, a cargo das agências F/Nazca, Quê e Duda Mendonça. A CUT obteve recentemente novo patrocínio de R$ 500 mil, desta vez para promover o 1.º de Maio, enquanto para a mesma festa a Força Sindical recebeu R$ 250 mil da Petrobrás. Na administração do orçamento milionário de publicidade e patrocínio da estatal está o ex-sindicalista petroleiro Wilson Santarosa, que considera natural o apoio. "São consumidores de produtos da Petrobrás", alega. Sobre as diferenças de valores para cada entidade, diz que o critério foi o da representatividade. "A base da CUT é muito mais extensa do que a da Força", diz. A gerência de Santarosa, com salário de R$ 20 mil, está um degrau abaixo da diretoria executiva e mantém total autonomia em relação aos diretores. Responde diretamente à presidência da empresa e a Gushiken, que o teria indicado para o cargo, conforme informações que circularam na época de sua chegada à estatal. Ele nega. Diz que foi convidado por José Eduardo Dutra, presidente da Petrobrás. Membro da quarta diretoria executiva da CUT, no biênio 88/89, Santarosa reingressou na estatal acompanhado da esposa, a jornalista Geide Miguel Santarosa, nomeada ouvidora-geral da Transpetro, subsidiária da Petrobrás. O salário para esta função, segundo informações obtidas pelo Estado, é de R$ 15 mil. A elevação do orçamento da área de Comunicação ocorreu simultaneamente ao aumento no corpo de funcionários. Aos 128 empregados existentes até 2002, juntaram-se outras 230 pessoas a partir de 2003. Destas, 46 prestaram concurso. Os demais 192 são profissionais contratados pela empresa de terceirização de serviços Protemp. Com sede em Santo André, cidade do ABC paulista, berço do PT, a Protemp iniciou a prestação de serviços à Petrobrás em 1991, diz o gerente comercial da empresa, Marcus Vinícius Rubortoni. Nos últimos anos, explica, intensificou a relação com a estatal e hoje detém "entre 10 e 15 contratos", fechados a partir de 2003. Rubortoni não revela valores de contratos nem folha de pagamentos, alegando sigilo comercial. De acordo com dados apurados pelo Estado, o valor total dos contratos da Petrobrás com a empresa é hoje de R$ 73 milhões. Só com a área de Comunicação, o acordo, com prazo de vigência de 2003 a 2006 (fim do mandato de Lula), equivale a R$ 23 milhões. Santarosa justifica o reforço de pessoal dizendo que a área ampliou suas atividades, "com a inclusão de novas mídias". E apresenta a evolução dos contratos de patrocínio: 1.040 projetos em 2001, 1.056 em 2002, 1.492 em 2003 e 1.892, em 2004. Também respondem à área de Santarosa, que se aposentou em 1994 no cargo de operador de refinaria, três gerências regionais de Comunicação da estatal. A do Nordeste, coordenada pelo também sindicalista Rosemberg Evangelista Pinto, que disputou em 2002 vaga a deputado estadual pelo PT, foi alvo de denúncia recente de ter privilegiado prefeituras do PT no patrocínio a festas juninas.