Título: Tesoureiro vai depor sobre mensalão de SP
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Nacional, p. A11

Ministério Público convoca Vicentini, do PPS, que denunciou suposto esquema na gestão Marta Suplicy

Primeira testemunha identificada do suposto mensalão pago pelo PT na Câmara de São Paulo, o tesoureiro do PPS paulistano, Evaldo Rui Vicentini, foi convocado pelo Ministério Público a depor dia 6, em inquérito civil aberto para investigar o caso. Autor da denúncia de que o PPS recebeu oferta de R$ 4 milhões do secretário-geral do PT, Silvio Pereira, e do ex-secretário de Abastecimento e Projetos Especiais da Prefeitura Valdemir Garreta para que o partido apoiasse a reeleição da ex-prefeita Marta Suplicy, revelada pelo Estado, Vicentini será ouvido a respeito da proposta. O promotor Antonio Celso Faria pretende interrogá-lo sobre a atuação do PT na Câmara e a suposta "compra" de vereadores. Vicentini sustenta ter ouvido de Raul Cortez e Roger Lin, no fim de 2002, então únicos representantes do PPS na Câmara, que ambos recebiam uma "contribuição mensal" do PT para votar de acordo com os interesses do governo. Diante da iminente entrada no PPS dos vereadores Edivaldo Estima e Myryam Athiê, egressos do PP e PMDB, Cortez teria protestado. "Ele disse: 'Eu tenho uma contribuição mensal dada pelo PT e não vou dividir poder com quer que seja.' E, por isso, ele e o Lin saíram do partido", declarou Vicentini. "Foi a primeira vez que ouvi falar de mensalão." O tesoureiro vai além. Garante que, no fim do ano passado, ouviu de Myryam e Estima que parlamentares e dirigentes petistas - na batalha para eleger um presidente da Câmara não alinhado diretamente com o prefeito José Serra (PSDB) - ofereceram R$ 250 mil a cada um para que apoiassem Celso Jatene (PTB), primeira opção do chamado Centrão, com adesão do PT, para disputar a eleição contra Ricardo Montoro (PSDB), apoiado por Serra. A aliança conseguiu eleger presidente Roberto Tripoli (à época no PSDB e hoje sem partido). "É mentira, até porque o PPS tinha coligação com Serra e compromisso de votar no Montoro (candidato oficial do PSDB). Fico triste porque o Rui (Vicentini) anda falando muitas inverdades e sem provas. Não tínhamos laços com o PT para que fizessem essa proposta", rebateu ontem Myryam. Tanto Myryam quanto Estima não são bem vistos pelo Centrão. Em 2003, eles votaram no candidato apoiado por Marta, Arselino Tatto (PT), para presidente da Câmara, apesar de terem prometido apoio a Antonio Carlos Rodrigues (PL), um dos articuladores do Centrão. Ontem, Cortez (PL) negou que tenha recebido dinheiro para apoiar Marta e prometeu processar Vicentini. Ao se defender da acusação, porém, admitiu ter feito indicação política. Em 2003, ele apresentou o nome de seu ex-chefe de gabinete, o hoje vereador Claudio Prado (PDT), para ser subprefeito em Perus. Esperava, com isso, obter benefício político. "Acredito que ele (subprefeito) tenha a obrigação de falar no meu nome", disse Cortez, ontem. "Da minha boca o Vicentini não ouviu nada", afirmou o vereador Estima, sobre a suposta compra de votos para a eleição da Câmara. "Já ouvi falar em mensalão, mas nunca ninguém me ofereceu nada." Ele admitiu, porém, que foi convidado a fazer parte da Mesa. "Ofereceram o cargo que eu quisesse, menos a presidência." Também reconheceu ter indicado o subprefeito de Parelheiros "e outras pessoas nas coordenadorias". Ele se recusou a detalhar o que ouviu "nos corredores da Câmara". "Não tenho provas." Ex-líder do governo Marta, o vereador João Antônio (PT) disse que as denúncias de Vicentini "não têm credibilidade nem merecem resposta", referindo-se ao fato de Vicentini ter ficado preso na PF por 20 dias por causa de um processo de evasão fiscal. O tesoureiro do PPS alega que era apenas testemunha da ação e o processo contra ele foi extinto. A assessoria de imprensa da ex-prefeita Marta informou que as indicações "tiveram em vista a execução do programa de governo, respeitando critérios éticos e transparentes e obedecendo a interesses da cidade". O PT e Marta vêm negando enfaticamente as declarações de Vicentini. O ex-vereador Lin não foi localizado.