Título: País precisa de faxina, diz Lula na TV
Autor: Lisandra Paraguaçú
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Nacional, p. A5

Presidente tenta transmitir idéia de que governo combate corrupção e fala em "espírito de colaboração" e "mão estendida"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu em pronunciamento feito ontem em cadeia nacional de rádio e TV, que o País passa por crise, mas "tem maturidade para corrigir seus próprios erros". O presidente usou copiosos números e informações sobre ações da Polícia Federal e do Ministério Público para transmitir a idéia de que o governo investiga a corrupção. Lula afirmou que falaria sobre corrupção e comparou o País a uma casa que precisa de faxina e que quando se começa a limpar a sujeira aparece. "Tenho afirmado que o combate à corrupção é como uma casa onde há muito tempo não se faz uma limpeza de verdade, e onde muita sujeira está acumulada há muito tempo. Quando você começa a limpar, o que mais aparece é lixo: atrás da porta, debaixo dos móveis, dentro dos armários", disse. Ele repetiu a argumentação de que mais casos de corrupção estão aparecendo porque o governo está investigando mais - e não porque a corrupção cresceu. Citou a CPI dos Correios como uma das armas que, junto com a ação da PF, permitirão descobrir a verdade. Mas não fez menções ao esforço do governo para impedir que a CPI dos Correios fosse criada. O apoio do governo só veio depois das denúncias do mensalão feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Ontem, Lula afirmou que todos os culpados descobertos pelas investigações serão punidos "com toda a força da lei, seja ele quem for, venha de onde vier, seja adversário ou aliado". Ao mesmo tempo o presidente se esforçou para transmitir a idéia de que nem todos os que estão sendo acusados - alguns deles seus aliados próximos, como o deputado José Dirceu (PT-SP) - são realmente culpados. "Em momentos críticos como o atual, parece que tudo se nivela por baixo", disse. "Parece que todas as pessoas são iguais. Mas isso são apenas aparências. Uma investigação profunda, como a que está sendo feita pela Polícia Federal, e agora reforçada pela CPI, logo, logo, para o bem do Brasil, saberá separar o joio do trigo, o bem do mal, a verdade da mentira. E garanto a vocês: se houver gente que tenha cometido desvios de conduta, usarei toda a força da lei", afirmou.

MÃO ESTENDIDA O presidente disse que seu objetivo é "fortalecer o país, proteger os brasileiros mais pobres e fazer crescer a economia". E emendou, em tom conciliador: "Esse é o sentido maior que exige o espírito de colaboração, a mão estendida, mesmo na diversidade de opiniões". Foram apresentados números de ações da Polícia Federal, pessoas presas e auditorias já feitas pela Corregedoria Geral da União. De acordo com os números do presidente, até agora mais de 700 municípios investigados apresentaram problemas de mau uso dos recursos. Lula afirmou que dobrou o orçamento da PF. "Nunca a Polícia Federal foi tão livre, ágil e eficiente como agora. E nunca o Ministério Público teve tanta colaboração para cumprir as suas obrigações constitucionais", assinalou. A seguir, disse que a PF recebeu ordem para "não agir politicamente, prendendo os pequenos e fechando os olhos para os grandes". O presidente ainda fez uma defesa das ações do seu governo. Lembrou que está "apenas há dois anos e meio" na presidência, mas que muita coisa já teria mudado no País. "Vejam: nos dois primeiros anos arrumamos a casa e começamos a implantar os nossos projetos. Mas é exatamente daqui pra frente que todo esse trabalho começa a aparecer e a mostrar seus resultados", disse. Lula terminou o pronunciamento dizendo ter certeza que o Congresso "saberá apurar todas as denúncias e que ao mesmo tempo continuará trabalhando para que os projetos de interesse do Brasil sejam discutidos e votados".