Título: Lula atende a pedido do PMDB e mantém Aldo
Autor: Vera Rosa Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Nacional, p. A6

Presidente planeja acabar com Coordenação Política e pôr Jaques Wagner para fazer a ponte com Congresso, mas enfrenta a resistência de peemedebistas

O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, pediu demissão ontem à noite ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, para surpresa geral, não aceitou. Diante do agravamento da crise política, Lula achou melhor manter Aldo até fechar o acordo com o PMDB. Pesou nessa decisão, ainda, a resistência do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), à troca de Aldo (PC do B) por um nome petista, no caso Jaques Wagner. Tudo estava programado para o anúncio de Wagner ainda ontem. No Palácio do Planalto, à tarde, era evidente a mobilização para a entrevista. De repente, tudo mudou. Lula recebeu Aldo e disse a ele que continuasse trabalhando normalmente. Em conversas anteriores, o presidente falara em extinguir o Ministério da Coordenação Política e pôr Wagner para fazer a ponte entre o governo e o Congresso. A idéia de Lula, ao menos até antes da conversa com Aldo, era de que a articulação com os partidos aliados fosse feita pelos líderes do governo na Câmara e no Senado, em dobradinha com Wagner, que é titular do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Mas o desenho da reforma ministerial vem mudando a cada dia. Preocupado, o presidente cancelou ontem a viagem que faria à Colômbia e à Venezuela, a partir de domingo. Tem pressa em acertar as mudanças no primeiro escalão. Para tratar da participação do PMDB no governo, Lula almoçará hoje com o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), Renan, Aldo e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). O PMDB e o governo falam agora em "pacto de governabilidade". Nos bastidores, os peemedebistas falam em dobrar o espaço de poder, assumindo o comando de mais dois ministérios e de todas as estatais a ele vinculadas. Querem "porteira fechada", como dizem. A queixa dos aliados é de que o governo do PT cede a "cabeça" do ministério ou estatal, mas ocupa todos os outros cargos. Para quem questiona se a exigência de "verticalização" dos postos não seria um preço alto demais, a resposta é uma indagação: "Quanto vale manter a cadeira presidencial?"Atualmente, o PMDB comanda os ministérios das Comunicações e Previdência. Os peemedebistas também querem que Lula faça uma manifestação pública sobre a necessidade da aliança e não aceita a vinculação do acordo de agora com o projeto de reeleição do presidente, em 2006. Em outras palavras: o partido vai avaliar o cenário até lá para ver se é conveniente apoiar Lula ou lançar candidatura própria ao Planalto. Para a vaga de Minas e Energia, pasta vaga desde a transferência de Dilma Rousseff para a Casa Civil, o PMDB indica Silas Rondeau, presidente da Eletrobrás. Rondeau é afilhado político do senador José Sarney (PMDB-AP). É provável a saída de Romero Jucá da Previdência, por causa das denúncias de irregularidades que pesam contra ele, mas, se isso acontecer, o PMDB deve indicar outro nome para o cargo. A permanência de Eunício Oliveira (PMDB-CE) nas Comunicações também não está definida. Se Eunício sair, o PMDB ficará responsável pela escolha do substituto. O PT pode perder o ministro da Saúde, Humberto Costa, cuja cadeira é cobiçada pelos peemedebistas. Se Costa sair, outro cotado para o seu lugar é Ciro Gomes, hoje na Integração Nacional. Esse remanejamento, se concretizado, abriria espaço para o PMDB na Integração. Tudo indica que o ministro das Cidades, Olívio Dutra (PT), ficará no cargo. A idéia de afastar agora todos os ministros que serão candidatos em 2006, antecipando a exigência da Lei Eleitoral - que prevê a saída até 30 de abril - também foi descartada.

FUSÕES O governo estuda ainda a possibilidade de fazer uma reforma administrativa, fundindo ministérios e enxugando estruturas, mas até agora não bateu o martelo sobre isso. Lula quer, por exemplo, juntar todos os programas de infra-estrutura, hoje espalhados por vários ministérios, numa única pasta. O Planejamento já foi acionado para fazer um sistema de acompanhamento e fiscalização dos projetos de infra-estrutura. As outras mudanças são consideradas mais difíceis agora, por causa da crise política. "Provocariam a paralisia do governo", disse um interlocutor do presidente.