Título: Na volta à planície, encontro com o baixo clero
Autor: Denise Madueno
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Nacional, p. A9

No primeiro dia efetivo de volta à Câmara, Dirceu rebateu críticas a discurso tumultuado

BRASÍLIA O ex-ministro José Dirceu reagiu ontem às críticas de que ajudou a criar o tumulto na sessão de anteontem da Câmara, ao trazer uma claque de 200 militantes petistas para assistir, das galerias, o discurso com o qual reassumiu o mandato de deputado pelo PT de São Paulo. "A casa é do povo, não é das elites. Tem de se acostumar", disse Dirceu, ao se eximir de culpa pela pancadaria em que terminou a sessão. "Estava todo mundo identificado e de crachá", disse Dirceu, ao se referir aos militantes trazidos pelo PT do Distrito Federal para apoiá-lo. O ex-ministro também procurou minimizar a importância do episódio para o aumento do desgaste da imagem do Congresso. "No Japão e na Inglaterra, é muito pior. Os deputados pegam o sapato e batem na mesa", afirmou o deputado Dirceu deu as declarações pouco antes de comparecer, à tarde, à Comissão de Sindicância. Depois da volta à Câmara com discurso de chefe de governo, ontem foi efetivamente o primeiro dia do ex-todo-poderoso chefe da Casa Civil na planície. Pela manhã, circulou pelo plenário e foi ao gabinete da liderança do governo. À tarde, antes do depoimento, chegou a sentar-se em uma mesa do cafezinho dos fundos do plenário, ponto de encontro dos parlamentares do alto e do baixo clero, para bater papo com o deputado Paulo Lima (PMDB-SP).

"Para conversar sobre política de São Paulo", disse Dirceu, que reiterou a vontade de governar o Estado, revelada anteontem na tribuna da Câmara.

A amigos, ele manifestou despreocupação com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de mandar o Congresso instalar a CPI dos Bingos, pedida pelos partidos de oposição para apurar as denúncias contra Waldomiro Diniz, que foi até 2003 seu assessor na Casa Civil. Primeiro, segundo relatou Dirceu a esses interlocutores, porque nem a oposição demonstra ânimo para revirar as acusações contra Waldomiro - envolvido em denúncias de cobrança de propinas do empresário de jogos Carlinhos Cachoeira. Além disso, alega Dirceu, as investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal nada encontraram de concreto contra o seu ex-assessor, mesmo com busca e apreensão de documentos na presidência da Caixa Econômica Federal. Dirceu, segundo disse a esses amigos, viu também aspectos positivos na decisão do STF. Para o ex-chefe da Casa Civil, ao sacramentarem que a instalação de CPIs é um direito das minorias, os ministros do STF vão ajudar o PT a alimentar a briga com os tucanos em vários Estados. No ponto de vista de Dirceu, os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin; de Minas Gerais, Aécio Neves, e do Pará, Simão Jatene, perderam um argumento para travar a instalação nas Assembléias Legislativas de seus Estados de CPIs pretendidas pelos petistas para investigar as administrações tucanas.