Título: Dirceu admite que conhece Marcos Valério, mas nega esquema
Autor: Denise Madueno
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2005, Nacional, p. A9

Em depoimento na comissão de sindicância da Câmara, ex-ministro contestou versão de Jefferson sobre o mensalão

Em depoimento a portas fechadas na comissão de sindicância da Câmara, o deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil, admitiu que conhece Marcos Valério Fernandes de Souza, sócio das agências SMPB e DNA Propaganda de Belo Horizonte, mas negou que tenha informação sobre operações de recursos feitas pelo publicitário. O depoimento de Dirceu na comissão ocorreu cerca de 24 horas após ele ter reassumido seu mandado de deputado e durou 40 minutos. Dirceu negou vários pontos dos depoimentos do presidente licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), na mesma comissão e no Conselho de Ética da Câmara, segundo contaram pessoas que acompanharam as declarações do ex-ministro. Na versão de Dirceu, não houve o encontro relatado por Jefferson no qual teria alertado o então ministro de que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, estava pagando o mensalão, o suposto esquema de pagamento de R$ 30 mil por mês a deputados do PP e do PL em troca de apoio ao governo. De acordo com Dirceu, não houve o encontro nem o soco na mesa, como Jefferson declarou, e que ele só soube do mensalão quando o Jornal do Brasil publicou reportagem no ano passado. Dirceu também negou que tenha participado ou homologado o acordo relatado por Jefferson pelo qual o PT entregou para o PTB R$ 4 milhões para serem usados na campanha eleitoral do ano passado. De acordo com Dirceu, não existe na Casa Civil a sala na qual o presidente do PT, José Genoino, Delúbio e o secretário-geral do PT, Silvio Pereira, teriam feito reuniões, como afirmou Jefferson. Para ressaltar que não havia esse "gabinete", Dirceu afirmou aos deputados da comissão que nem os funcionários aceitariam essa invasão de privacidade. De acordo com deputados, em seu depoimento, Dirceu procurou sempre separar a figura do ministro e a de dirigente partidário. Disse que, quando cabia a ele a função de articulador político, antes da nomeação do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, ele recebia dirigentes partidários e, como Genoino, Delúbio e Silvio Pereira não são parlamentares, a presença deles chamava mais a atenção. Em meio a várias negativas, Dirceu confirmou que esteve no apartamento de Jefferson, acompanhado do líder do PTB na Câmara, José Múcio (PE), para pedir que retirasse a assinatura no requerimento que criava a CPI dos Correios, argumentando que ela seria apenas exploração política. Pessoas que acompanharam o depoimento na comissão de sindicância afirmaram que Dirceu respondeu a todas as perguntas, cerca de 70, e em um raro momento fez censura a Jefferson, questionando por que o petebista não fez as denúncias antes ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na tribuna da Câmara como sugeriu o deputado Miro Teixeira (PT-RJ).

ACAREAÇÃO O corregedor da Câmara e coordenador da comissão de sindicância, deputado Ciro Nogueira (PP-PI), disse que o depoimento de Dirceu serviu para esclarecer os fatos. Segundo ele, a comissão avaliará se será necessária uma acareação entre Jefferson e Dirceu depois da conclusão de todos os 41 depoimentos. Ontem, além de Dirceu, a comissão ouviu o líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), e o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE). Mabel repetiu o depoimento que prestou anteontem no Conselho de Ética da Câmara, negando que tenha feito a oferta de dinheiro para que a deputada licenciada Raquel Teixeira (PSDB-GO) trocasse de partido. "A deputada colocou ingredientes no episódio que não existem", disse Mabel, repetindo reiteradas vezes que não ofereceu dinheiro à deputada.