Título: Denúncias anônimas envolvendo a Vasp mobilizam a polícia em SP
Autor: Mariana BarbosaAna Paula Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Economia & Negócio, p. B14

Garagens e galpões foram vasculhados em três bairros, mas acusações não se confirmaram; cofre da empresa é arrombado

Após descobrir R$ 8 milhões na terça-feira, em equipamentos aeronáuticos da Vasp - incluindo uma turbina -, no pátio da concessionária Brasil Caminhões em São Bernardo do Campo, a polícia passou o dia ontem atrás de denúncias do paradeiro de outros bens que teriam sido furtados da empresa. Sem voar desde janeiro, a Vasp está sob intervenção judicial desde março. Os bens da Vasp e do grupo econômico do empresário Wagner Canhedo, dono da empresa, estão indisponíveis. Durante a madrugada, foram encontrados equipamentos de solo (fontes de alimentação de ar e de energia), de valor estimado de R$ 2 milhões, em um frigorífico de Suzano. Os equipamentos, segundo o dono da concessionária de São Bernardo, Anésio Bovolon Junior, foram levados para Suzano para liberar espaço, já que César Canhedo, vice-presidente da Vasp e filho de Wagner Canhedo, não honrou o pagamento de um aluguel de R$ 4,5 mil pela armazenagem do material. Além dessas apreensões, o delegado seccional de São Bernardo, Marco Antonio de Paula Santos, foi atrás de outras duas denúncias que o levaram a garagens e galpões da companhia aérea BRA, nos bairros Penha e Vila Matilde, em São Paulo. Foram encontradas vans, esteiras, guindastes e escadas de avião com o logotipo da Vasp, adquiridos pela BRA em um leilão judicial. "A BRA apresentou notas comprovando que o material foi legalmente adquirido em um leilão judicial em 2003", afirmou a assessoria da BRA. "Não encontramos irregularidades no caso da BRA", confirmou o delegado Santos. O delegado não descarta, porém, a possibilidade de que outros depósitos com equipamentos da Vasp venham a surgir. Pelo menos três seguranças da empresa foram afastados na semana passada, após a descoberta de que um torno, duas fresas e uma retífica haviam desaparecido da oficina da empresa em Congonhas. Detectou-se ainda o arrombamento de um cofre. "Estamos recebendo muitas denúncias anônimas", diz o advogado Pedro Morel, assessor da comissão de intervenção. Segundo o delegado Santos, o inquérito de São Bernardo deve ser concluído em dez dias. Ele pretende ouvir César Canhedo e um primo deste, citados por Junior como responsáveis pelo material. "O Anésio Junior está cristalinamente envolvido. Quanto a César e seu primo, pretendo ouvi-los, mas isso não é simples. Talvez eu tenha de notificá-los." Ontem, a direção do Grupo Canhedo divulgou nota em que afirma estar "surpresa" com notícias "caluniosas" de que os Canhedo estariam envolvidos no furto da turbina e outros equipamentos. Segundo a nota, Junior, a quem o grupo Canhedo chama de amigo, fora contratado para levar os equipamentos de Congonhas para Guarulhos antes da intervenção. "Surpreendido com a decretação da intervenção e o afastamento de todo o corpo diretivo da Vasp, ele (Junior) guardou os referidos equipamentos, sem conseguir manter contato com os dirigentes afastados, permanecendo no aguardo de orientações por parte dos interventores", diz a nota. A nota não explica, no entanto, por que o transportador levou o material para São Bernardo, já que o município não se encontra no caminho entre Congonhas e Guarulhos. Segundo um levantamento preliminar de bens feito pela comissão de intervenção, de fato a turbina encontrada em São Bernardo, avaliada em US$ 1 milhão, foi retirada das dependências da Vasp antes da intervenção. Ela já havia sido dada como garantia para três empresas: GE, Embratel e Caixa Econômica Federal. Os outros equipamentos, como um gerador de solo (GPU), foram retirados da empresa após a intervenção. A notícia da apreensão da turbina e dos outros equipamentos foi comemorada pelos funcionários da Vasp, que fizeram até uma vaquinha para comprar um bolo. A previsão era de que os equipamentos deveriam ser transportados para a sede da Vasp ainda ontem. O interventor interino, Reginaldo Alves de Sousa, foi designado como depositário do equipamento. "Nossa intenção é resgatar todos os bens desaparecidos para reequipar a empresa para que ela possa voltar a prestar serviços", afirmou o interventor. O objetivo é reativar os serviços de manutenção para terceiros e, depois, voltar a operar com aviões cargueiros. "Queremos gerar receita para pagar salários e tornar a empresa atrativa para investidores."