Título: Empresas fazem proposta à China
Autor: Patrícia Campos MelloRenata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Economia & Negócios, p. B7

Para não recorrer às salvaguardas, regulamentadas ontem, empresários pedem a chineses que importem tecidos de algodão

Representantes do setor têxtil brasileiro tiveram ontem sua primeira reunião reservada com oficiais chineses para discutir a invasão de produtos da China no Brasil. Os empresários brasileiros, liderados por Josué Christiano Gomes da Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), fizeram uma proposta aos chineses para evitar o uso de salvaguardas contra os têxteis. Segundo o Estado apurou, o Brasil quer que os chineses comecem a importar tecido plano (de algodão) brasileiro. Essa é uma das reivindicações do setor para desistir de pedir a imposição de salvaguardas contra confecções e sintéticos (fios e tecidos) chineses. O encontro se deu no mesmo dia da reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que aprovou dois decretos, um para o setor têxtil e o outro para os demais setores, que regulamentam o uso de salvaguardas específicas contra a China. O secretário-executivo da Camex, Mário Mugnaini, informou que os dois textos serão encaminhados à Casa Civil em, no máximo, 15 dias, para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa assiná-los. Pelo decreto, quando um setor brasileiro se sentir prejudicado pela importação de produtos chineses e ingressar com um pedido de salvaguardas no Ministério do Desenvolvimento, o governo brasileiro abrirá um processo de consulta preliminar com o governo chinês, por um prazo de 30 dias. Não havendo sucesso nas negociações, o governo brasileiro abrirá processo de investigação para aplicação de salvaguardas e, logo no início, poderá aplicar sobretaxas ou cotas provisórias até o encerramento das investigações. Mugnaini prevê que o processo de investigação deverá levar em torno de 90 dias. Além disso, o Brasil vai propor à China a constituição de um grupo de trabalho permanente que possa ser acionado cada vez que houver reclamação por algum setor brasileiro. Têxteis e confecções, ferramentas, produtos de áudio, calçados esportivos e produtos ópticos devem pedir salvaguardas. Ontem, o setor têxtil se adiantou no processo de consultas com o governo chinês. "Começamos hoje, no dia em que nosso governo está oficializando as salvaguardas para produtos chineses, o diálogo entre empresários brasileiros e o governo chinês", disse Gomes da Silva durante a reunião, que durou três horas. Representando o lado chinês estavam Li Jiaoyun, a cônsul-geral da China, e Zhang Jisan, cônsul comercial da China, que prometeram levar a proposta para o governo da China. "Queremos vender para a China mais do que algodão, queremos vender tecidos e confecções." A idéia é evitar que a concorrência chinesa destrua a indústria de confecção brasileira e o Brasil acabe se tornando apenas um fornecedor de matéria-prima (algodão e fio de algodão) para a China. As importações de têxteis da China foram de US$ 140,976 milhões de janeiro a maio, um crescimento de 67,17%. Em Brasília, Mugnaini informou que o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, por meio do embaixador do Brasil em Pequim, Luiz Augusto Castro Neves, encaminhou carta ao ministro de Comércio da China, Bo Xilai. Nessa carta, o Brasil ressalta a importância da China como parceiro estratégico, mas ressalta o problema do aumento das importações chinesas.