Título: Argentina lança candidatos ao BID
Autor: Ariel Palácios
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Economia & Negócios, p. B7
O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, confirmou ontem que tem candidatos próprios à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ele citou o ex-ministro da Economia Aldo Ferrer, um economista heterodoxo que participou das ditaduras militares nos anos 60 e 70, chamado de "mestre" pelo ministro Roberto Lavagna. Ao lançar Ferrer, Kirchner tenta neutralizar a candidatura de João Sayad, a opção do governo brasileiro para o BID. Fontes do governo Kirchner afirmam que a indicação de Ferrer não passa de "teimosia", para não favorecer o Brasil, já que as probabilidades de seu candidato são mínimas. Segundo informações extra-oficiais, em sua recente visita a Buenos Aires, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, teria proposto a Lavagna o apoio do Brasil à candidatura de um argentino para a vice-presidência do BID em troca do apoio a Sayad. Nos últimos meses, Brasil e Argentina têm discordado sobre candidaturas para cargos importantes de organismos internacionais, entre eles a Organização Mundial do Comércio (OMC). Em maio, uma frase atribuída a Kirchner sugeria uma forte dor-de-cotovelo por causa da presença brasileira no cenário internacional. "Aparece uma vaga na OMC, o Brasil a quer; aparece outra para a presidência da FAO, o Brasil quer; eles até queriam um papa brasileiro!", teria dito Kirchner. Ferrer disse que se sentia honrado pela indicação de Kirchner, mas não queria especular sobre a hipótese de comandar o BID, já que "esse é um cargo definido em negociação internacional". Ao longo dos últimos cinco anos, Ferrer tornou-se um dos mais ativos integrantes do Grupo Fénix, composto de economistas da Universidade de Buenos Aires que criticavam o sistema de conversibilidade econômica, que durante dez anos e meio (1991-2002) estabeleceu a paridade entre o peso e o dólar. Ferrer é um dos homens de confiança de Kirchner, que o designou diretor da recém-criada estatal Energia Argentina (Enarsa). Embora respeitado no âmbito acadêmico por sua vasta produção de livros sobre história econômica, Ferrer não tem respaldo empresarial nem político importante. Na lista de candidatos de Kirchner, após Ferrer, aparece o atual embaixador argentino em Washington, Octavio Bordón. Peru, Bolívia, Colômbia e Nicarágua também lançaram candidatos para o BID. O prazo de inscrição termina dia 16 de julho.