Título: Informalidade freia desemprego
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Economia & Negócios, p. B4

Empregos sem registro mantêm índice em 17,5% de abril para maio na região metropolitana de São Paulo, após 3 meses de alta

Depois de três meses seguidos de alta, o desemprego na Região Metropolitana de São Paulo ficou estável em maio, graças à criação de postos de trabalho sem carteira assinada. Pesquisa divulgada ontem pelo convênio entre a Fundação Sistema Estadual de Análise de dados (Seade) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) mostra que a taxa de desemprego atingiu 17,5% da População Economicamente Ativa (PEA) no mês passado, repetindo a taxa registrada em abril. Apesar da estabilidade da taxa, o número de desempregados aumentou ligeiramente para 1,761 milhão de pessoas - 8 mil a mais do que no mês anterior. Foram criadas 35 mil vagas, número insuficiente para abrigar as 43 mil pessoas que ingressaram no mercado de trabalho no período. A pesquisa revela ainda que foram criados apenas empregos precários, além de ilegais, no mês passado. O aumento do número de assalariados sem carteira de trabalho chegou a 46 mil, enquanto entre os com carteira houve redução de 2 mil empregados. Além disso, o número de autônomos cresceu em 24 mil pessoas. "Como o custo de contratação e de demissão de mão-de-obra sem carteira assinada é relativamente baixo, boa parte das empresas recorre a esse expediente ilegal enquanto permanecerem as incertezas sobre a economia", diz o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio. No mês passado, a indústria abriu 40 mil empregos e o setor de serviços criou outros 19 mil postos. As principais empregadoras foram as indústrias gráfica e de papel, que ampliaram as contratações em 17,5%, seguidas pelos setores de vestuário e têxtil (7,4%) e alimentação (7,1%). Já o comércio fechou 11 mil vagas e o emprego doméstico e construção civil cortaram 13 mil ocupações. "O desemprego parou de crescer, mas ainda há muitas incertezas em relação ao futuro", afirma o coordenador de Análise de Fundação Seade, Alexandre Loloian. Segundo ele, a taxa costuma cair a partir do mês de junho, quando as empresas começam a contratar pessoal para aumentar a produção para o segundo semestre, tradicionalmente de maior atividade que os primeiros seis meses do ano. Mas, além das incertezas provocadas pelo manutenção dos juros elevados e da valorização do real frente ao dólar, o nível de ocupação tem se mantido elevado desde o início do ano. "Como o nível de contratação permaneceu elevado, é provável que muitas empresas tenham condições de produzir mais sem ampliar o número de empregados", observa o Lúcio, do Dieese.

RENDA A pesquisa mostrou que a renda do trabalho também permaneceu praticamente estável. Em abril (último dado disponível), o rendimento médio real dos ocupados correspondeu a R$ 1.024, com variação de apenas 0,1% em relação a março. Na comparação com março do ano passado, houve ligeira alta de 0,4%. A massa de rendimentos (principal indicador da capacidade de consumo da população de uma região) apresentou ligeira variação de 0,8% sobre o mês anterior. Mas em relação a março do ano passado, houve crescimento de 5,5%, resultado quase exclusivo da ampliação do nível de emprego, já que os rendimentos permaneceram estáveis.