Título: Mercadante sobre a meta de inflação: É mais um erro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Economia & Negócios, p. B3

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), criticou ontem a decisão dos ministros da área econômica de manter a meta de inflação de 4,5% para 2006, com margem de tolerância de 2 pontos porcentuais para baixo e para cima. A decisão deverá ser oficializada hoje, na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que também fixará a mesma meta de 4,5% para 2007, com igual banda, e definirá a nova Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP). "É mais um erro que está sendo cometido", disse Mercadante, que protestou, no ano passado, contra a fixação da meta de 4,5% para este ano, com o argumento de que ela levaria o Banco Central (BC) a elevar os juros e a inibir a retomada do crescimento econômico. "O que não entendo é a insistência em definir metas irrealistas", observou. Para ele, o BC deveria trabalhar com uma meta de 5,1% para 2006, o mesmo objetivo deste ano, com margem de tolerância de 2,5%.

Mercadante vê o quadro da economia internacional deste ano parecido com o do final do ano passado. Observa que há pressões expressivas em commodities como o petróleo, cujo preço bateu recorde nos últimos dias. Além disso, a questão da indexação dos contratos nas áreas de energia e telefonia ainda não foi solucionada. "Espero que esteja errado, mas com essa meta de 4,5%, o BC poderá ser levado a subir os juros novamente no início do próximo ano."

A área econômica argumenta que se elevasse a meta para 2006 o mercado entenderia como uma atitude de tolerância para com a inflação e como sinal de que haverá gastança no ano eleitoral. O governo acredita que, ao fixar a meta de inflação de 4,5% para 2006 e 2007, dará boa margem de manobra para o BC suavizar a política monetária. Na prática, terá 24 meses para fazer convergir a inflação para o centro da meta.

Com a queda da inflação, indicada por todos os institutos de pesquisa de preços, o governo acha que o BC terá condições de reduzir gradualmente as taxas de juros já no segundo semestre deste ano. Mas Mercadante alertou para o efeito perverso que o atual processo de deflação pode ter: "O ritmo de deflação não pode comprometer o crescimento."