Título: Em nome da ciência, Japão quer caçar mais baleias
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Vida&, p. A22

A despeito de uma decisão da Comissão Baleeira Internacional (CIB) contra o novo programa japonês de "captura com fins científicos", o Japão reafirmou sua intenção de ampliar a caça de 400 para 850 baleias por ano. Ontem, na reunião anual que vem sendo realizada na Coréia do Sul, os 66 países integrantes aprovaram um proposta da Austrália, por 30 votos a 27, pedindo ao Japão que deixe seu "plano científico" de lado, a menos que possa ser realizado sem a morte dos mamíferos - os Estados Unidos afirmaram, publicamente, que não é necessário matar as baleias para estudos. A resolução também pede a revisão dos resultados do trabalho de pesquisa.

Após a votação, o ministro do Meio Ambiente da Austrália, Ian Campbell, pediu ao Japão que respeite a decisão e desista do programa. Ainda assim, Joji Morishita, representante japonês na CIB, insistiu que a derrota é considerada uma "vitória moral" do país e reafirmou a intenção de dobrar a cota anual de captura de baleias-minke, além de coletar 50 baleias de outras duas espécies - tudo com "fins científicos", apesar de a carne ser comercializada no arquipélago.

O Japão já havia sofrido outra derrota na reunião, quando não conseguiu suspender a moratória que proíbe a caça das baleias.

A prática foi proibida oficialmente em 1986, após séculos de exploração que levaram à quase extinção de diversas espécies em todo o mundo. A Noruega é o único país que mantém a caça abertamente, em desafio às determinações da comissão.

ATLÂNTICO SUL

Ontem, o projeto de criação de um santuário para baleias no Atlântico Sul - planejado por uma equipe brasileira - foi votado, pelo quinto ano consecutivo, na reunião.

Apesar de a maioria dos integrantes ter se mostrado favorável (houve 29 votos a favor e 26 contra, com duas abstenções), ele volta para a gaveta por precisar de dois terços de votos favoráveis para que seja aprovado. Segundo o coordenador do Projeto Baleia Franca e integrante da delegação brasileira, José Truda, o sistema de dois terços de aprovação, usado pela CIB, é "arcaico".