Título: Inocentado, diretor do Ibama busca rumo
Autor: Ricardo Brandt e Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Nacional, p. A16

Carlos Hummel deve ir à Justiça contra prisão equivocada durante operação da PF

Depois de ficar quatro dias preso em Cuiabá, ter seu nome associado à quadrilha desbaratada pela Operação Curupira e, pouco depois, ser inocentado, o diretor do Ibama, Antonio Carlos Hummel, diz que ainda não encontrou o rumo. Há duas semanas descansando com a família no Pará, Hummel não decidiu nem mesmo se retornará ao cargo de diretor de Florestas, do qual foi afastado por 60 dias, quando sua prisão foi decretada pela Justiça. "Só retomo se tiver um salvo-conduto ou um habeas-corpus preventivo", ironiza. "Minha prisão foi precipitada, arbitrária, gratuita. É inadmissível responsabilizar um diretor em Brasília por um problema local."

Hummel pensa em ingressar com uma ação na Justiça, pedindo reparações pelos danos sofridos ao longo dos últimos dias. "Minha vida virou de pernas para o ar. Meus pais idosos e meus filhos viram meu nome associado à quadrilha. Nunca imaginei passar por isso", diz.

Os problemas de Hummel, porém, ainda não acabaram. Excluído da lista de indiciados pela Polícia Federal na Operação Curupira, de combate à exploração ilegal de madeiras na Amazônia, ele continuará sendo investigado pelo Ministério Público Federal e pode ser denunciado com os demais envolvidos. A afirmação é do procurador da República Mario Lúcio Avelar, de Cuiabá (MT), que, nos próximos dias, trabalhará na denúncia formal do caso.

O procurador sustentou ontem que "há fortes indícios" de envolvimento do diretor na fraude que propiciou um mercado clandestino de madeira avaliado em R$ 890 milhões. Funcionário ainda do antigo Instituto Brasileiro de Defesa Florestal (IBDF), Hummel teve sua prisão temporária decretada pela Justiça um dia antes de a Operação Curupira. "Acompanhei as investigações dessa operação. Ajudei a suspender e invalidar 2 mil planos de manejo em áreas indígenas. Imagine a minha surpresa", conta ele.

Hummel diz que, nas últimas duas semanas, tem tentado descansar. "Mas, sem querer, a imagem da prisão retorna. Aí vem junto a raiva e o inconformismo", diz. "Prisão tem de ser o fim de um processo, quando há provas suficientes para mostrar a culpa de alguém. Isso parece tão básico, mas não foi o que aconteceu comigo."

Engenheiro florestal, Hummel diz que, num primeiro momento, pensou em nunca mais retomar suas atividades. Mas agora começa a pensar melhor. "É o que sei fazer", diz. O diretor atribui sua prisão a dois fatores: precipitação e uma má vontade contra tudo o que é feito pelo Ibama. "O instituto deveria ser fortalecido. Mas hoje ele é visto como um cachorro morto, alvo fácil para ser chutado", diz. Hummel observa que o Ibama dispõe de 43 engenheiros florestais para cuidar de 5 milhões de km2, a área da Amazônia.

"Um número de funcionário equivalente a de um hotel de segunda categoria. É claro que, por melhor que seja a intenção, fica difícil fazer um bom trabalho." Hummel afirmou que, ainda na prisão, teve uma conversa tranqüila com Mário Lúcio Avelar, o procurador que pediu sua prisão temporária. "Foi um diálogo civilizado", conta.