Título: OAB discorda de Fonteles e diz que presidente deveria ser interrogado Mariângela Gallucci
Autor: Lisandra Paraguassú Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Nacional, p. A14

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria ser ouvido pelo procurador-geral da República, Claudio Fonteles, nas investigações sobre o mensalão. Busato discordou da decisão de Fonteles de não pedir explicações ao presidente. "Acho que todos os personagens envolvidos em algum tipo de denúncia devem ser investigados. Evidentemente, o presidente da República viu a corrupção ser denunciada da porta de seu gabinete. Portanto, todas as instituições devem ser passadas a limpo e todas as investigações legais neste momento são válidas", afirmou Busato.

O presidente da OAB esteve ontem na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), onde participou de uma reunião para discutir a crise política. Tanto ele quanto o presidente da CNBB, d. Geraldo Majella Agnelo, discordaram de quem afirma que há risco de golpe.

"Falar em golpe neste momento é uma falácia. Está claro que algozes e vítimas, denunciantes e denunciados são da mesma falange, da mesma linha política. Quem falar em golpe está querendo desviar o efetivo foco da crise que está aí, que é a corrupção", afirmou o presidente da OAB. "Eu não pactuo com esse perigo de golpe, ainda que haja sempre aqueles que estão interessados no quanto pior, melhor", disse d. Geraldo.

O presidente da CNBB também afirmou que o País quer sair logo dessa situação, para que se tenha paz: "Que se procure realmente o que é para o bem do Brasil."

Questionado sobre a decisão de Fonteles de poupar Lula, o cardeal respondeu: "O presidente Lula é o supremo mandatário deste país. Naturalmente, ele deve ser o mais informado de tudo para que não se coloque na posição de não conheço, logo, não tenho nada a dizer. Realmente, a responsabilidade é de todos. Ainda que nós não queiramos apelar para uma culpabilidade do presidente Lula, é seu dever, nesta hora, fazer com que se apure tudo."

Para Busato, o País enfrenta um momento particularmente difícil: "A OAB e CNBB, com serenidade, conclamam as autoridades do País a não abafarem nada para que possamos passar o País a limpo neste momento tão cinzento." D. Geraldo enfatizou que não basta instalar CPI: "É preciso empenho da Justiça."