Título: No Planalto, conversas para tentar fechar reforma amanhã
Autor: Lisandra Paraguassú Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Nacional, p. A14

Em reunião, Lula avisa que secretarias com status de ministério não serão extintas

Com a crise política em temperatura cada vez mais elevada, o presidente Lula tenta acelerar a reforma ministerial e chegou até a adiar a viagem que faria hoje, ao Rio, para tentar definir as mudanças na equipe. Sua intenção é resolver tudo até amanhã, já que no domingo viaja para a Colômbia e, depois, para a Venezuela, de onde só retorna na terça. Jaques Wagner, titular do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, deverá mesmo substituir Aldo Rebelo na Coordenação Política. Na noite de ontem, no 4.º andar do Palácio do Planalto, o clima da equipe de Aldo era de despedida. Deputado licenciado do PC do B, Aldo deve retornar para a Câmara, como o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, com quem travou acirrada disputa durante um ano e quatro meses.

Lula sondou os empresários Abílio Diniz (Pão de Açúcar), Benjamin Steinbruch (Companhia Siderúrgica Nacional) e o consultor Antoninho Marmo Trevisan para comandar o Conselhão capitaneado por Wagner. Sem resposta afirmativa até ontem, o atual titular poderá acumular a função com a Coordenação Política.

O presidente garantiu à noite a líderes dos movimentos sociais que não vai extinguir as secretarias com status de ministério, como a da Pesca, a da Mulher e a da Igualdade Racial. "Ele foi muito claro e disse que não acabará com as secretarias", disse a cantora Lecy Brandão. Depois de sair da reunião com representantes de 40 movimentos sociais, às 21h20, Lula retornou ao seu gabinete para tentar fechar o modelo da reforma ministerial e do pronunciamento que fará em cadeia nacional de rádio e TV, possivelmente hoje. Estavam presentes os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo), além de Aldo e Wagner.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cobrou de Lula uma definição rápida sobre o modelo a ser adotado na reforma. O Ministério de Minas e Energia, que Dilma Rousseff deixou vago ao assumir a Casa Civil, é objeto do desejo dos peemedebistas. Mas o PMDB quer um pacote que inclua a Petrobrás, hoje sob comando do PT.

Entre os aliados, o sentimento é de compasso de espera. Lula já afirmou que pretende dar mais dois ministérios ao PMDB, mas alega precisar do partido unido. Renan disse ao presidente que a aliança com o PMDB é "estratégica" para garantir a governabilidade no momento de crise. "Mas governabilidade não é uma mercadoria política que esteja à venda. É uma engenharia política em torno dos interesses do País."

Até agora, as críticas à indecisão de Lula são constantes e partem de todos os lados: do PT ao PMDB. No centro das denúncias do mensalão, o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), disse que seu partido não espera nenhum ministério. "Já vivemos essa novela antes e sabemos o final."