Título: Lula vai à TV defender o governo
Autor: Lisandra Paraguassú Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2005, Nacional, p. A14

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai para a linha de frente defender seu governo. Ele passou boa parte da tarde de ontem gravando um pronunciamento que será exibido em cadeia de rádio e tevê, provavelmente hoje, para dizer que nunca se combateu tanto a corrupção no Brasil quanto em seu governo. Se a idéia do pronunciamento foi abortada três semanas atrás, por ter sido considerada último recurso, ontem, depois de reunião com o secretário de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, e o publicitário Duda Mendonça, a avaliação foi de que Lula teria de usar sua credibilidade para dar a versão do governo sobre as denúncias.

O clima ontem no Palácio do Planalto, que deixou o presidente Lula abatido, era de preocupação com a seqüência de denúncias de corrupção que têm atingido o governo. A idéia geral no Planalto era de que o governo não estava conseguindo dar sua versão dos fatos e estava sendo atropelado pela oposição.

O presidente fará pronunciamento na mesma linha de seu discurso no início do mês no Fórum Global contra a Corrupção. Aquele foi o primeiro momento em que Lula mostrou publicamente preocupação com as denúncias. Disse que "cortaria na própria carne, se preciso" e tinha "biografia a preservar".

Lula vai, mais uma vez, insistir na idéia de que não há mais corrupção hoje e sim que os casos têm aparecido mais porque seu governo está trabalhando e investigando. Deve citar números de operações da PF e apresentar a idéia de que as investigações, mesmo em casos que envolvem servidores federais, é pedida pelo governo.

Essa é a linha da entrevista dada pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, há cerca de um mês, quando Lula estava embarcando para a viagem ao Japão e à Coréia. Na época, o ministro foi escalado para ser a voz de defesa do governo.

Até o início da noite de ontem, a comunicação do governo ainda avaliava o momento correto de apresentar o pronunciamento. Mas a corrente mais forte era a de que deveria ser o mais breve possível. De preferência, hoje. Chegou-se a cogitar pedir o espaço ainda para ontem, mas não houve tempo.

Pouco tempo depois da volta de Lula ao Brasil, quando Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou o esquema de mensalão, mais uma vez Bastos foi escalado para defender o governo, dessa vez em cadeia de rádio e TV. A análise à época foi de que o último recurso seria o presidente falar. Aparentemente, esse momento chegou.